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Crítica

Jovens Ateus

: "Vol. 1"

Ano: 2025

Selo: Balaclava Records

Gênero: Pós-Punk, Dream Pop

Para quem gosta de: terraplana e gorduratrans

Ouça: Passos Lentos, Mágoas e Correntes

8.2
8.2

Jovens Ateus: “Vol. 1”

Ano: 2025

Selo: Balaclava Records

Gênero: Pós-Punk, Dream Pop

Para quem gosta de: terraplana e gorduratrans

Ouça: Passos Lentos, Mágoas e Correntes

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2025

O sentimento de estagnação e deslocamento que consome os versos de Correntes, quinta música de Vol. 1 (2025, Balaclava Records), diz muito sobre aquilo que os membros da Jovens Ateus buscam desenvolver no primeiro trabalho de estúdio. “Me deparo com mudanças / Me parece que a vida seguiu sem eu aqui”, cresce a densa letra da canção, sempre acompanhada por um contrastante jogo de guitarras melódicas.

Trabalho de sentimentos latentes e versos sempre expositivos, o registro que ainda conta com produção de Roberto Kramer (Raça, gorduratrans) parte dos tormentos vividos por Guto Becchi (voz), Fernando Vallim (guitarra), João Manoel Oliveira (guitarra), Bruno Deffune (baixo) e Antônio Bresolin (bateria eletrônica e sintetizadores) para dialogar com o ouvinte. São canções que flertam com a morte, tratam sobre crises de ansiedade e pintam um retrato brutal sobre o impacto da vida adulta e o peso das relações que criamos.

Embora marcado pela atmosfera opressiva, a grande beleza do registro de onze faixas está na forma como o quinteto equilibra esse repertório liricamente soturno com uma doce combinação de guitarras altamente pegajosas e batidas rápidas. Canções que partem de uma base típica do pós-punk dos anos 1980, conceito reforçado no EP entregue pela banda há dois anos, mas que encontram sempre um elemento de ruptura.

A própria escolha da banda em fazer de Passos Lentos a primeira composição apresentada ao público, em fevereiro deste ano, torna isso ainda mais explícito. Enquanto os versos destacam a melancolia e sensação de isolamento vivida pelo eu lírico (“Ontem te acenei / Mas você não reparou”), sintetizadores e guitarras deixam de mirar no passado para dialogar com nomes mais recentes como Beach Fossils e Wild Nothing.

Mais do que isso, Vol. 1 é um trabalho marcado pelo forte aspecto exploratório. Em Twinturbo Mixtape, por exemplo, a ambientação sombria do registro dá lugar às pistas, lembrando a transição do Joy Division para o New Order. Já em Mágoas, são melodias enevoadas, por vezes psicodélicas, tocando de leve o dream pop. Nada que prepare o ouvinte para o misto de death e thrash metal na alucinante Saboteur Got Me Bloody.

Dessa forma, mesmo que o grupo apresente ao público uma obra livre de grandes transformações quando pensamos nos gêneros e principais pilares que servem de sustento ao trabalho, há sempre um componente de mudança que conduz o ouvinte para outras direções. Um repertório que ora conforta, ora perturba, mas em nenhum momento se acomoda, proposta que vai da introdutória Vultos até os minutos finais do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.