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Crítica

Raça

: "27"

Ano: 2024

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Ombu e eliminadorzinho

Ouça: Debochado, Nem Sempre Fui Assim e 144

8.2
8.2

Raça: “27”

Ano: 2024

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Ombu e eliminadorzinho

Ouça: Debochado, Nem Sempre Fui Assim e 144

/ Por: Cleber Facchi 06/09/2024

Às vezes, tudo que uma banda precisa é dar um tempo, deixar que seus integrantes toquem outros projetos e descubram se ainda faz sentido seguir em frente. No caso do Raça, grupo paulistano formado por Novato Calmon (baixo, voz), Popoto Martins (guitarra, voz), Thiago Barros (bateria), João Viegas (sintetizador, voz) e Santiago Obejero Paz (guitarra, voz), cinco anos foram necessários para que o quinteto pudesse entender que direção explorar após o lançamento de Saúde (2019) e o que se consolida com a chegada de 27 (2024).

E como essa espera valeu a pena. Quarto e mais recente trabalho de estúdio da banda que contabiliza uma década de carreira, 27 diz a que veio logo nos momentos iniciais, em 144. Enquanto guitarras melódicas e a bateria avançam aos poucos, culminando em um fechamento grandioso, versos agridoces funcionam como uma delicada reflexão sobre as relações vividas entre os próprios integrantes. “Eu já não me lembro por que tanto tempo passou”, confessa Martins, evidenciando o forte aspecto sentimental que move o registro.

São composições que, mesmo dolorosas, vão direto ao ponto, evitando a abordagem contemplativa e ritmo cadenciado de obras como Saboroso (2016). É como se o grupo, pela primeira vez, se livrasse de possíveis excessos, preservando apenas o que há de essencial dentro de cada faixa. Exemplo disso fica mais do que evidente em Nem Sempre Fui Assim. Em um intervalo de pouco mais de um minuto, o quinteto parte pra cima do ouvinte, destacando a força das guitarras e versos feitos para serem cantados a plenos pulmões.

Mesmo quando estreita laços com outros parceiros criativos, essa maior fluidez da banda no processo de composição se mantém. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Debochado, faixa que se abre para a chegada de Carlos Dias, da Polara, uma das principais referências do grupo paulistano. São canções que, mesmo capazes de transitar por diferentes estilos e ritmos pouco usuais para o grupo, se entrelaçam de maneira dinâmica, como se cada nova música abrisse passagem para a criação seguinte.

Pena que esse dinamismo não se mantém durante toda a execução do material. Passado o lançamento de Nem Sempre Foi Assim, música que pontua uma sequência de ótimas canções, como Amizade, Conserta e Tudo Bem, 27 começa a ficar cada vez mais imprevisível. Se por um lado, canções como Eu Penso, com participação do saxofonista argentino Gal Go, ampliam os horizontes da banda, outras, como a arrastada Gana, com Gab Ferreira, soam de maneira incompleta e confusa, comprometendo os rumos do trabalho.

Ainda assim, é fascinante perceber o interesse do grupo em trilhar novos percursos e romper, mesmo que de maneira sutil, com tudo aquilo que foi consolidado em dez anos de carreira. Da maior relação com a MPB, marca de músicas como Expectativa, com Marina Nemesio, passando pelo pela atmosfera melódica de Que Besteria, evidente é o esforço do quinteto em se reinventar criativamente, porém preservando a própria identidade, prova de que o tempo trouxe apenas enormes benefícios para o repertório da Raça.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.