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Crítica

Ombu

: "Certas Idades"

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Raça e Terno Rei

Ouça: Reclama e Clima

6.5
6.5

Ombu: “Certas Idades”

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Raça e Terno Rei

Ouça: Reclama e Clima

/ Por: Cleber Facchi 06/09/2022

A última vez que ouvimos falar sobre a Ombu, banda formada por João Viegas (teclados, baixo e voz), Santiago Obejero Paz (guitarra) e Thiago Barros (bateria), foi há seis anos, durante o lançamento de Pedro EP (2016). Na ocasião, o trio paulistano, sempre imerso na formação de guitarras labirínticas, batidas e vozes arrastadas, parecia transportar para dentro de estúdio parte das inquietações vividas durante o processo de criação do registro. Um repertório curto, porém, conceitualmente amplo, vide o material ancorado em memórias dolorosas de um passado ainda recente e conflitos típicos de um jovem adulto.

Satisfatório perceber em Certas Idades (2022, Balaclava Records), primeiro álbum de estúdio do trio, um trabalho que preserva parte dessa essência, porém, se permite provar de novas possibilidades, ritmos e diferentes direções criativas. Como indicado logo no título da obra, trata-se de um exercício marcado pela temática do amadurecimento. São canções que tratam sobre as coisas simples da vida, detalhando cenas e acontecimentos de forma bastante sensível. “Canção de ninar, ir cedo na escola / Razão de viver, vê se não demora hoje“, canta Viegas na introdutória Pare, síntese conceitual dos temas explorados pela banda.

Essa mesma transformação acaba se refletindo não apenas na montagem dos versos, mas na fina tapeçaria instrumental que cobre toda a superfície do registro. Diferente do material entregue nos antigos trabalhos da banda, incluindo o inaugural Mulher EP (2015), o trio se distancia de um repertório econômico, por vezes excessivamente cru, para investir em uma obra marcada pelos detalhes e pequenos acréscimos. São arranjos de cordas, metais, pianos e texturas ocasionais que garantem maior profundidade ao disco. Mesmo as guitarras ganham novo tratamento, vide a sutileza impressa em composições como Quando.

Parte dessa mudança de direção vem da escolha do grupo em colaborar em estúdio com o experiente Kassin, produtor que já trabalhou com nomes como Los Hermanos e Maria Luiza Jobim. O resultado desse processo está na entrega de um registro que se distancia de uma abordagem típica da cena paulistana, com suas guitarras ruidosas e temáticas urbanas, para investir em um repertório marcado pela leveza dos elementos. São ambientações litorâneas que evocam o som de veteranos como The Beach Boys, porém, preservando a identidade da banda, como na delicada música de encerramento, a atmosférica Clima.

O problema é que esse maior refinamento instrumental dado ao disco tende a evidenciar e potencializar uma clara deficiência no trabalho da banda: o uso das vozes. São inserções semi-declamadas que talvez funcionassem dentro do ambiente ruidoso proposto em Pedro EP, mas que contrastam de forma pouco harmoniosa quando nos deparamos com a exuberância dos arranjos em Certas Idades. O próprio ritmo do álbum e forte similaridade entre parte expressiva das canções contribui para o lento desgaste do material.

Não por acaso, nos momentos em que rompe com essa estrutura, Certas Idades revela ao público algumas de suas melhores criações. É o caso da ensolarada Reclama, colaboração com Helo Cleaver que acelera, cresce e evidencia a capacidade do grupo em transitar por diferentes estilos de forma sempre minuciosa. A própria faixa de encerramento do disco, mesmo partindo de uma abordagem contida, encanta pela forma como o trio amplia o próprio campo de atuação, brinca com a sobreposição das vozes e ainda deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos. É como um campo permanentemente aberto às possibilidades, proposta que concentra todas as características, erros e acertos esperados de um típico registro de estreia.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.