Resenha: “Pedro”, Ombu

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2016

Artista: Ombu
Gênero: Alternative Rock, Post-Hardcore, Pós-Rock
Acesse: https://www.facebook.com/bandaombu

Calma“. O verso sereno e levemente melancólico que abre a quarta faixa de Pedro EP (2016, Balaclava Records) parece dizer muito sobre a presente fase da banda paulistana Ombu. Três anos após o lançamento do primeiro registro de estúdio, o artesanal Caminho Das Pedras EP, João Viegas (baixo e voz), Santiago Mazzoli (guitarra e voz) e Thiago Barros (bateria) assumem uma postura sóbria e parcialmente renovada com o presente trabalho de inéditas, revelando ao público uma sequência de composições marcadas pela complexidade dos detalhes.

Passo além em relação ao trabalho apresentado há pouco mais de um ano em Mulher EP (2016), registro de seis faixas e uma espécie de recomeço dentro da curta trajetória do grupo, o novo álbum confirma o profundo esmero na construção de cada música produzida pelo grupo. Ideias que passeiampelo mesmo cenário urbano apresentado no primeiro EP do trio, porém, encorpadas por um conjunto de novas ambientações, ruídos e temas etéreos.

Ainda que Calma, composição escolhida para anunciar o trabalho pareça sintetizar toda a transformação do grupo paulistano, sobrevive na dolorosa Sem Mais, faixa de abertura do disco, um conjunto de novos experimentos e colagens instrumentais que confirmam a completa evolução do trio. Enquanto os versos resgatam de forma angustiada as memórias de um passado ainda recente, musicalmente a canção cresce de forma a revelar um verdadeiro labirinto instrumental, mergulhando em diferentes cenários, solos arrastados de guitarra, texturas e até vozes assumidas por um grupo de crianças.

Observado em proximidadeaos dois últimos registros da banda, Pedro – o nome é um misto de homenagem e brincadeira com um fã do grupo – se revela como o trabalho mais seguro da Ombu, fruto da profunda interação entre cada integrante da banda em estúdio. “No estúdio, eu estava me sentindo em casa. É importante respeitar o tempo de gestação de casa música”, confessou Mazzoli em entrevista ao site da Noisey.

Perceba como os versos de Calma criam uma espécie de ponte melódica para ensurdecedora avalanche de ruídos que soterra o segundo ato da canção. O mesmo uso “instrumental” da voz ecoa com naturalidade na sujaOmça, composição que bagunça a ordem serena do registro, criando uma ponte para os demais lançamentos da banda. Em Sina, faixa mais curta do disco, um mundo de versos sufocantes e pequenas distorções controladas, sempre detalhistas, íntimas do ouvinte.

O mais curioso talvez seja perceber como o grupo se mostra capaz amarrar tamanha carga de referências, histórias, confissões e diferentes bases instrumentais dentro de um curto espaço de tempo. Do primeiro acorde de Sem Mais ao último lamento em Queria, são apenas 12 minutos de duração, tempo suficiente para que o ouvinte seja arrastado para dentro do universo de temas dolorosos que abastece a obra da Ombu desde o primeiro trabalho.

Pedro EP (2016, Balaclava Records)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Raça, Terno Rei e Jonathan Tadeu
Ouça: Calma, Sem Mais e Omça

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.