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Crítica

Jup do Bairro

: "In.corpo.ração"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Rap, Eletrônica

Para quem gosta de: Ventura Profana e Irmãs de Pau

Ouça: Lave sua boca (suja) quando for falar de mim

8.3
8.3

Jup do Bairro: “In.corpo.ração”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Rap, Eletrônica

Para quem gosta de: Ventura Profana e Irmãs de Pau

Ouça: Lave sua boca (suja) quando for falar de mim

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2024

O corpo ainda é a principal ferramenta de trabalho de Jup do Bairro. Quatro anos após questionar “o que pode um corpo sem juízo?“, a multiartista paulistana está de volta com o provocativo In.corpo.ração (2024, Independente), registro em que amplia a própria pesquisa, se debruça em novas temáticas e ainda estreita laços com outros parceiros criativos. São diálogos poéticos e sonoros que vão dos membros da Cyberkills, responsáveis pela produção do material, aos eventuais encontros que acontecem no decorrer das canções.

Com Sinfonia do Corpo (In.corpo.ração) como composição de abertura, Jup apresenta para das regras que serão implementadas e conceitualmente ampliadas ao longo do material. Enquanto os versos mais uma vez reforçam o lirismo político da artista (“Cadê o futuro que eu construí? / Olhava meus dedos ralados / Segui no muro que nunca subi“), batidas eletrônicas alternam entre o convite às pistas e a necessidade de seguir em frente, como um complemento direto ao que se projeta na letra (“Mesmo sem me mover, ainda danço“).

Uma vez ambientado ao material, o ouvinte é continuamente confrontado pela artista que projeta sua voz e diferentes temáticas de maneira sempre pertinente. Em Lave sua boca (suja) quando for falar de mim, por exemplo, Jup se entrega ao funk em uma abordagem violenta, direcionamento que atravessa as batidas eletrônica da dupla Cyberkills e cresce nos versos furiosos lançados pela cantora. “Não molho mais meus olhos / Somente minhas palavras“, dispara em meio a ruídos sintéticos que tornam tudo ainda mais intenso.

Essa mesma força no processo de composição fica ainda mais explícita em Não vou mais chorar nem me lamentar. Já conhecida das apresentações ao vivo da cantora, a faixa completa pela participação de Edgar e Mateus Fazeno Rock avança para cima do ouvinte. Pouco mais de três minutos em que versos marcados pelo sentimento de libertação se alimentam da força pulsante das batidas, como uma versão ainda mais impactante daquilo que a própria artista e a dupla de produtores haviam testado com MC Tha em Jup-Me.

Passada essa intensa combinação de elementos, Espero que esse samba te encontre bem surge como um respiro necessário dentro do material. Talvez reducionista em excesso, a canção regida pelo clarinete e saxofone de Laura Santos deixa de lado a fúria das músicas que a antecedem para revelar a sensibilidade poética da cantora. “Confesso que não estou nos meus melhores dias / A tristeza toma conta quando lhe convém / E hoje estou chorando feridas antigas“, confessa a artista em um delicado diálogo com o ouvinte.

Eternizada por Elza Soares, Mulher do Fim do Mundo, de Alice Coutinho e Romulo Fróes, chega para fechar o trabalho, porém, dentro das regras da cantora. Diferente da versão original da música, Jup utiliza de uma abordagem interpretativa, por vezes teatral, alternando entre versos cantados e declamados. É como um espaço aberto às possibilidades, conceito que mais uma vez se abre para os sopros de Santos e a produção carregada do Cyberkills, culminando em um encerramento catártico e deliciosamente caótico, como uma síntese criativa daquilo que caracteriza a sonoridade, poética e estética incorporada pela própria cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.