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Crítica

Kaytranada

: "Timeless"

Ano: 2024

Selo: RCA

Gênero: Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: NxWorries e Channel Tres

Ouça: Still, Hold On e Do 2 Me

6.0
6.0

Kaytranada: “Timeless”

Ano: 2024

Selo: RCA

Gênero: Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: NxWorries e Channel Tres

Ouça: Still, Hold On e Do 2 Me

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2024

Timeless (2023, RCA) é uma combinação das batidas mais genéricas com a incapacidade de Kaytranada em administrar de forma equilibrada o próprio trabalho. Primeiro álbum de inéditas do artista canadense em carreira solo após um intervalo de cinco anos, o sucessor de Bubba (2019) é uma obra exageradamente longa, repetitiva e que se apoia na presença de nomes importantes da indústria da música, mas que parece incapaz de extrair o que há de melhor nesses colaboradores, mergulhando em um resultado formulaico.

Parte dessa sensação tem um motivo. Ainda que meia década tenha se passado entre um álbum e outro, o produtor de Montreal se manteve bastante ativo. Além de revelar uma série de criações inéditas nesse intervalo, como Look Easy e o EP Intimidated (2021), Kaytranada ainda trabalhou na produção de obras assinadas por artistas como Tinashe, Kelela, Tkay Maidza e Ravyn Lenae, revelando há poucos meses o colaborativo Kaytraminé (2023), um registro assinada em parceria com o rapper estadunidenseAminé.

Partindo desse volume excessivo de lançamentos, não é difícil perceber os padrões que tem orientado a obra do artista desde o introdutório 99.9% (2016). Em geral, são canções apoiadas em uma base cíclica, como um sample ou linha de baixo funkeada, sintetizadores complementares e batidas que seguem uma mesma cadência, oscilando entre o R&B e o uso temas sutilmente dançantes. É quase possível prever como começa e termina qualquer composição, tornando a experiência de ouvir o trabalho bastante exaustiva.

E a quantidade de canções também não ajuda. São 21 faixas que pouco avançam criativamente, gerando uma sensação de sufocamento interminável, como se o ouvinte estivesse trancado dentro de uma mesma composição. Declaradamente influenciado por veteranos como Madlib e J Dilla, Kaytranada poderia voltar a ouvir seus mestres e perceber como os mesmos sempre criaram pequenos pontos de ruptura dentro das próprias criações, rompendo com a morosidade eterna que aqui dialoga com o próprio título do álbum.

O mais triste talvez seja perceber a forma como Kaytranada parece simplesmente apagar colaboradores dotados de um brilho próprio e que naturalmente se destacariam em um registro do gênero. É o caso de Tinashe, com quem acumula uma série de boas canções, mas que passa quase despercebida em More Than A Little Bit. A própria Ravyn Lenae, com quem trabalhou no excelente Hypnos (2022), é outra que parece aproveitada de maneira lamentável, se perdendo no reducionismo excessivo que consome Video.

Claro que nem mesmo as batidas mais básicas de Kaytranada dão conta de diminuir a presença de Dawn Richard, que rouba para ela a faixa Hold On, e o sempre brilhante Anderson .Paak, que com seu misto de canto e rima engrandece Do 2 Me. Outra que chama a atenção é Charlotte Day Wilson que, com sua voz característica, trilha em Still um caminho diferente daquele apontado por Rochelle Jordan logo nos minutos inicias, em Spit It Out. São momentos de evidente acerto, mas que quase acabam se perdendo em um disco consumido pelos excessos e incapacidade do artista em revelar algo diferente do que havia testado antes.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.