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Crítica

Karen O / Danger Mouse

: "Lux Prima"

Ano: 2019

Selo: BMG

Gênero: Rock Alternativo, Art Rock

Para quem gosta de: Yeah Yeah Yeahs e Broken Bells

Ouça: Lux Prima e Turn The Light

7.5
7.5

“Lux Prima”, Karen O & Danger Mouse

Ano: 2019

Selo: BMG

Gênero: Rock Alternativo, Art Rock

Para quem gosta de: Yeah Yeah Yeahs e Broken Bells

Ouça: Lux Prima e Turn The Light

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2019

Mesmo seguindo por caminhos completamente distintos, Karen O e Danger Mouse foram responsáveis por alguns dos projetos mais significativos da música estadunidense nas últimas duas décadas. Enquanto a cantora, compositora e líder do Yeah Yeah Yeahs se revelou como a principal voz feminina da cena de Nova York dos anos 2000, o produtor encontrou na relação com diferentes representantes da música alternativa, pop e R&B a base para a consolidação de obras importantes. São encontros com CeeLo Green, no Gnarls Barkley, e uma sequência de registros ao lado de James Mercer (The Shins), no Broken Bells, isso sem contar a série de álbuns produzidos para bandas como The Black Keys, Parquet Courts e Beck.

Juntos em estúdio, O e Mouse compartilham as próprias experiências e preferências estéticas para a consolidação do colaborativo Lux Prima (2019, BMG). São nove faixas e pouco mais de 40 minutos em que a dupla norte-americana passeia por entre décadas, sentimentos e ideias que parecem apontar para diferentes campos da música. Um curioso exercício criativo que preserva a identidade de cada realizador, porém, se revela ao público como um fragmento único, isolado, produto de duas mentes tão diversas.

Fina representação desse vasto catálogo instrumental e poético se revela com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, na extensa faixa-título da obra. Em um intervalo de quase dez minutos, Mouse não apenas resgata uma série de conceitos anteriormente testados em outros registros autorais, como o uso de sintetizadores e temas atmosféricos produzidos ao lado do italiano Daniele Luppi, como a poesia romântica e introspectiva de Karen O se revela por completo para o ouvinte. “Eu estou em nenhum lugar, eu não sou ninguém, eu não sou ninguém / Não há ninguém além de você“, canta em um misto de confissão e profunda melancolia.

Em Woman, uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, a perfeita combinação da essência de cada colaboradora. Enquanto a batida forte e canto rasgado de O transportam o ouvinte para a boa fase do Yeah Yeah Yeahs, entre Fever to Tell (2003) e Show Your Bones (2006), sintetizadores, vozes em coro e pequenos respiros instrumentais apontam claramente para o trabalho de Danger Mouse no Broken Bells. Uma rica colagem de referências particulares, mas que em nenhum momento distorcem a identidade conceitual proposta para o presente disco.

O mais interessante em Lux Prima talvez seja perceber a forma como a dupla se permite provar de novas possibilidades e ritmos, ampliando os domínios da obra. É o caso de Turn Out The Light, música assumidamente inspirada pelo trabalho de Mary J. Blige e outros nomes de destaque do R&B/soul dos anos 1990. São guitarras, batidas e sintetizadores cuidadosamente encaixados, esmero que acaba se refletindo na forma como a própria Karen O sutilmente detalha os versos ao longo da canção, convidando o ouvinte a mergulhar em uma dança lenta.

É partindo desse evidente desejo da dupla em revisitar o passado de forma autoral que Mouse e O revelam ao público algumas de suas melhores composições. Do pop psicodélico de Drown, música que aponta de maneira explícita para os anos 1970, passando pela balada caseira de Reveries, faixa que parece saída do último disco solo da vocalista, Crush Songs (2014), ideias e referências se entrelaçam de forma sempre minuciosa, fazendo de Lux Prima uma obra tão curiosa e autoral, quanto íntima de tudo aquilo que a dupla vem produzindo desde o início da carreira.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.