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Crítica

Maria Beraldo

: "Colinho"

Ano: 2024

Selo: Risco

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Luiza Lian e Jadsa

Ouça: Truco e I Can’t Stand My Father Anymore

8.6
8.6

Maria Beraldo: “Colinho”

Ano: 2024

Selo: Risco

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Luiza Lian e Jadsa

Ouça: Truco e I Can’t Stand My Father Anymore

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2024

Não se deixe enganar pelo título afetuoso que estampa a imagem de capa do segundo e mais novo álbum de Maria Beraldo. Em Colinho (2024, Risco), a cantora, compositora e produtora catarinense consegue ser ainda mais provocativa do que no material entregue no antecessor Cavala (2018). São canções perfumadas pelo sexo, desejos e insinuações da musicista que começou a carreira tocando com Arrigo Barnabé e hoje divide suas funções entre o trabalho como integrante da banda Quartabê e a produção de trilhas sonoras.

Foi justamente durante a elaboração dessas trilhas, ainda no período pandêmico, que muitas das faixas que integram o trabalho foram gestadas. É o caso de Truco, música originalmente composta para o filme Regra 34 (2022), de Julia Murat, mas que ganha novo tratamento, destacando o aspecto provocante que embala a construção dos versos. O mesmo acontece em Baleia. Parceria com Juçara Marçal e Kiko Dinucci em Delta Estácio Blues (2021), a reinterpretação de musicista busca tensionar ainda mais a experiência do ouvinte.

De fato, Beraldo parece pouco interessada em facilitar para o público. Mesmo que muitas das composições utilizem de um acabamento pop, destacando a utilização de versos curtos, pegajosos e cíclicos, há sempre um elemento de ruptura que bagunça a experiência do ouvinte e conduz o trabalho para outras direções. Dessa forma, mesmo velhas conhecidas, como as já citadas Truco e Baleia, ganham novos significados ao serem observadas como parte do disco, destacando o aspecto exploratório que orienta a obra de Beraldo.

Entretanto, prevalece nas canções ainda inéditas o grande charme do repertório de Colinho. Do momento em que tem início, no reducionismo torto da própria faixa-título, uma colaboração com Os Fita, evidente é o esforço da musicista em se desafiar criativamente em estúdio. É como se cada nova criação aportasse em um território diferente, proposta que vai da forte teatralidade explícita em Guma, música em que combina a obra de Jorge Amado com a de James Baldwin, aos delírios dançantes de I Can’t Stand My Father Anymore.

Mesmo os convidados que surgem ao longo do trabalho parecem aproveitados de maneira pouco usual. É o caso do sempre inquieto Negro Leo, com quem divide a serena Quem Sou Eu. Já em Matagal, são arranjos acústicos e reducionistas que envolvem a voz forte de Zélia Duncan, criando um respiro necessário entre a urgência de Truco e I Can’t Stand My Father Anymore. Surgem ainda preciosidades como a jazzística Masc, densa colaboração com Ana Frango Elétrico que trata sobre não-binariedade e outras questões de gênero.

Ao final dessa intensa jornada emocional, que vez ou outra esbarra em canções de menor impacto, como Ninfomaníaca e Crying Now, Beraldo reafirma o compromisso com o ofício de musicista ao regravar Minha Missão, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro. “Eu vivo pra cantar / E canto pra viver”, confessa a artista, agora acompanhada pelo saxofone de Thiago França e o cavaquinho de Rodrigo Campos, além, claro, do coprodutor Tó Brandileone. É como uma propositada ruptura em relação ao restante da obra e, ao mesmo tempo, uma manifestação do contínuo esforço da instrumentista catarinense em jamais sucumbir ao óbvio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.