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Crítica

Mateus Fazeno Rock

: "Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem"

Ano: 2025

Selo: DeckDisc

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Don L e Giovani Cidreira

Ouça: Melô do Sossego e Licença Pra Desabafar

8.4
8.4

Mateus Fazeno Rock: “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem”

Ano: 2025

Selo: DeckDisc

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Don L e Giovani Cidreira

Ouça: Melô do Sossego e Licença Pra Desabafar

/ Por: Cleber Facchi 08/08/2025

A mensagem de Mateus Fazeno Rock não poderia ser mais clara: “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem”. Contraponto ao material entregue no soturno Jesus Ñ Voltará (2023), o terceiro álbum de estúdio do cantor e compositor cearense nasce como uma celebração à vida nas periferias, trata sobre bem-estar, otimismo, memória e o direito ao descanso, mas em nenhum momento perde a crueza e o contato com a realidade.

Parece que eu tô correndo / Pra lugar nenhum / Não ter esperanças / Cansa”, reflete o artista em Melô do Sossego. Síntese criativa do restante da obra, a canção evidencia não apenas o forte aspecto provocativo e sobriedade de Mateus durante toda a execução do álbum, como destaca os sintetizadores e a contribuição sonora do experiente Fernando Catatau, coprodutor do trabalho junto do próprio artista e Rafael Ramos.

Uma vez imerso nesse espaço musicalmente ampliado, munido sempre de letras documentais, Mateus leva o “rock de favela” que vem sendo explorado desde Rolê Nas Ruínas (2020) para outros territórios criativos. Em Mercado das Miudezas, por exemplo, o artista contrapõe a dureza da vida periférica com a potência do coletivo (“Na melhor nóis divide o que tem / Na pior nóis divide também”), já em Daquilo que Nois Merece, é o amor que surge como refúgio em tempos difíceis (“O ano inteiro trabalhando tanto / Tesão e descanso”).

Embora parta dessa abordagem comunitária, fazendo música a partir do entorno, o artista nunca deixa de olhar para o próprio interior. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Rec.ordações, uma composição de amor nostálgica que se constrói a partir de um imaginário afetivo ligado à estrada, ao tempo e à fantasia do reencontro, como uma expressão amarga da vulnerabilidade emocional do cantor.

Entretanto, é quando se entrega à fúria que Mateus evidencia todo seu potencial em estúdio. Exemplo disso fica bastante evidente em Licença Pra Desabafar, um manifesto poético-político que reivindica o direito à expressão e denuncia estruturas de opressão, principalmente religiosas. A própria Arte Mata, mesmo que tematicamente deslocada em relação ao restante do material, destaca a contundência do músico cearense.

Ainda que nem todas as composições partilhem da mesma intensidade lírica, como Saturno e a Intuição, O Braseiro e as Estrelas e, principalmente, Quando Você Volta, com ideias melhor exploradas em Daquilo que Nois Merece, prevalece em Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem a entrega de um trabalho que se impõe com força singular. Um disco atento às urgências coletivas e brechas de afeto que atravessam o cotidiano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.