Dois anos após o lançamento do último trabalho em carreira solo, Michael Jordan Bonema, o MIKE, retorna com uma de suas obras mais ambiciosas, Showbiz! (2025, 10k). Sequência ao material entregue em Burning Desire(2023), o registro de 24 composições, todas bastante curtas, parte da relação do artista com a vida na estrada durante as turnês para refletir sobre a saudade de casa, a solidão e outros tormentos pessoais.

Nesse sentido, a curta duração das faixas e volume excessivo de canções tem um propósito tanto essencial para o andamento rítmico do trabalho, como conceitual e estilístico. São pequenos fluxos de pensamento, como se a cada parada em uma cidade diferente, o rapper aproveitasse para mergulhar ainda mais fundo nas próprias inquietações, potencializando o que havia iniciado em álbuns como o delicado Disco! (2021).

“Sonhos de ficar rico, eu era pobre naquela época / Hoje em dia, eu não rezo por qualquer merda, mas por mais força”, dispara logo nos minutos iniciais da obra, em Bear Trap. Síntese temática do registro, a canção produzida por DJ Blackpower, um dos pseudônimos do rapper, não apenas apresenta parte dos elementos que serão liricamente explorados ao longo de Showbiz, como a tapeçaria instrumental que cobre o disco.

São melodias submersas, texturas e samples que a todo momento acenam para a obra de veteranos como MF DOOM e Madlib, mas em nenhum momento ocultam a identidade criativa do rapper. Exemplo disso fica bastante evidente em You’re The Only One Watching, música em que parte de uma ambientação jazzística para mergulhar em uma mensagem de áudio da própria mãe, reforçando o caráter emocional do registro.

Embora marcado pelo lirismo confessional e forte aspecto intimista da obra, Showbiz! estabelece pequenas brechas para a chegada de diferentes colaboradores. Em What U Bouta Do?/A Star was Born, por exemplo, são os versos do rapper 454 que pontuam a canção, levando o trabalho para outras direções. Já em Miss U, a rima dá lugar à voz doce de Duendita, destacando ainda mais a forte sensibilidade que orienta o material.

Naturalmente, entre uma composição de maior destaque e outra, MIKE deixa espalhar uma série de faixas menos expressivas, como esboços ainda incompletos desse processo criativo. Entretanto, por se tratarem de músicas tão curtas, tudo é tão efêmero que qualquer dano significativo ao repertório de Showbiz! acaba passando despercebido. São fragmentos de um exercício totalmente particular, onde até mesmo as ideias menos desenvolvidas contribuem para a construção desse contínuo fluxo de pensamentos e sentimentos.

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