Image
Crítica

Mount Eerie

: "Night Palace"

Ano: 2024

Selo: P. W. Elverum & Sun Ltd.

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: The Microphones e Neutral Milk Hotel

Ouça: I Walk e Non-Metaphorical Decolonization

8.6
8.6

Mount Eerie: “Night Palace”

Ano: 2024

Selo: P. W. Elverum & Sun Ltd.

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: The Microphones e Neutral Milk Hotel

Ouça: I Walk e Non-Metaphorical Decolonization

/ Por: Cleber Facchi 13/11/2024

Você nunca sabe o que esperar de Phil Elverum, mas uma coisa é certa: sempre será surpreendido. Novo trabalho de estúdio do cantor, compositor e produtor norte-americano sob a alcunha de Mount Eerie, Night Palace (2024, P. W. Elverum & Sun Ltd.) é um bom exemplo disso. São 26 composições que se espalham em um intervalo de 80 minutos de duração, destacando a capacidade do multi-instrumentista em transformar diferentes cenas, acontecimentos e experiências essencialmente simples do cotidiano em algo grandioso.

A diferença em relação a outros trabalhos produzidos pelo artista, como o colaborativo Lost Wisdom Pt. 2 (2019), desenvolvido em parceria com a cantora e compositora Julie Doiron, está na ferocidade de Elverum. Como indicado logo na introdutória faixa-título, são composições que posicionam as guitarras em primeiro plano, destacando o uso ruidoso dos arranjos que avançam sobre o ouvinte. Da voz berrada em Swallowed Alive à completa fluidez de I Saw Another Bird, tudo parece pensado para potencializar a obra de Elverum.

Interessante perceber na formação das letras o completo oposto disso. Entre camadas de guitarras, ruídos e batidas fortes, Elverum faz de Night Palace um espaço de acolhimento. São composições que partem de um ambiente raivoso, como um reflexo do atual cenário político estadunidense, porém, encontram em relações pessoais e no carinho do músico pela própria filha um contraponto quase radiante. “Meu amor por você, minha criança / É tão permanente quanto o céu”, confessa o artista nos versos da acolhedora My Canopy.

Nesse sentido, difícil não pensar em Night Palace como uma resposta ao devastador A Crow Looked At Me (2017), trabalho em que narra de forma quase descritiva os acontecimentos envolvendo a morte da própria esposa, a artista e parceira de criação Geneviève Castrée (1981 – 2016). O próprio jeito de cantar do músico, cada vez menos declamado, como um regresso aos primeiros registros, torna isso ainda mais evidente. “Até que eu também me dissipe / Me encontre piscando ao amanhecer”, canta em I Walk, composição que ainda faz um aceno para Dawn (2008), obra em que reflete sobre um período de dor antes de conhecer Castrée.

Embora parta de uma abordagem sentimental bastante explícita, como um mergulho na mente de Elverum, Night Palace em nenhum momento deixa de olhar o cenário ao redor. Da reflexão sobre ancestralidade em Non-Metaphorical Decolonization, passando pelo lirismo político de Stone Woman Gives Birth to a Child at Night, sobram momentos em que o artista rompe com questões pessoais para pintar um retrato bastante realista da sociedade estadunidense, seus vícios e a participação em diferentes conflitos ao redor do globo.

Por conta desse amplo catálogo de ideias, vez ou outra o artista esbarra em composições verborrágicas, ou que se estendem para além do necessário. São músicas como a extensa Demolition, com pouco mais de 12 minutos de duração, que parecem comprometer o que se resolve de maneira eficiente em canções mais curtas e também descritivas, como I Saw Another Bird. Instantes de evidente exagero, mas que em nenhum momento comprometem a capacidade de Elverum em continuamente tensionar a experiência do ouvinte.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.