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Críticas

Mount Eerie

: "A Crow Looked at Me"

Ano: 2017

Selo: P.W. Elverum & Sun

Gênero: Folk, Indie

Para quem gosta de: Sun Kil Moon e Sufjan Stevens

Ouça: Real Death e Ravens

9.0
9.0

Resenha: “A Crow Looked at Me”, Mount Eerie

Ano: 2017

Selo: P.W. Elverum & Sun

Gênero: Folk, Indie

Para quem gosta de: Sun Kil Moon e Sufjan Stevens

Ouça: Real Death e Ravens

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2017

A morte é real“, canta Phil Elverum logo nos primeiros segundos de Real Death. Faixa de abertura do oitavo álbum de inéditas como Mount Eerie, A Crow Looked at Me (2017, P.W. Elverum & Sun), a canção de versos descritivos e arranjos econômicos sintetiza com naturalidade a crueza e melancolia que orienta a presente fase do músico norte-americano. Um retrato doloroso e honesto sobre a morte. Versos que refletem com naturalidade o período de luto e necessidade de seguir em frente após a morte da artista Geneviève Castrée, parceira de longa data e esposa de Elverum.

Produzido entre agosto e dezembro do último ano, poucas semanas após a morte de Geneviève, o trabalho não apenas conta com a utilização de grande parte dos instrumentos da artista – “sua guitarra, baixo, palheta, amplificador e o velho acordeão da família” –, como foi inteiramente composto no quarto onde a musicista passou as últimas semanas de vida, vindo a falecer em decorrência de um câncer no pâncreas. Memórias, versos e fragmentos sentimentais que preservam a identidade de Geneviève durante toda a produção do disco.

Distante da poesia “teatral” de obras orientadas pela mesma temática – caso do recente Skeleton Tree (2016), obra de Nick Cave & The Bad Seeds, e o clássico Funeral (2004), do grupo canadense Arcade Fire –, Elverum se concentra na produção de um registro cru, por vezes frio na composição literal de determinadas faixas. Uma reflexão particular de como o peso da morte se reflete em ações simples do dia a dia, vide o doloroso ato de recolher o lixo em When I Take Out the Garbage at Night.

Sufocado pelo peso das lembranças, Elverum acaba criando uma obra densa, por vezes claustrofóbica, conceito explícito na forma como os versos se espalham pelo interior do disco. “Nossa filha tem um ano e meio / Você está morta há onze dias / De barco, eu fui até o lugar / Onde iríamos construir a nossa casa / Se você tivesse viva / Mas você morreu“, canta na amarga Seaweed, terceira faixa do disco. Um indicativo da poesia realista, crua e pessimista que orienta o trabalho, em geral, centrada no reformulado cotidiano do músico e da filha pequena do casal.

Em A Crow Looked at Me, o peso dos versos acaba posicionando os arranjos em segundo plano. São raros os momentos em que o dedilhado tímido dos violões (Ravens) e pianos (My Chasm) assumem uma expressiva posição de destaque. E não poderia ser diferente. Da abertura ao fechamento do disco, sobrevive na poesia de Elverum o principal componente da obra. Uma coleção de versos confessionais, amargos, conceito talvez similar ao trabalho de Mark Kozelek no elogiado Benji (2014), obra-prima do Sun Kil Moon.

Extensão madura do material produzido pelo músico nos antecessores Clear Moon (2012), Ocean Roar (2012) e Sauna (2015), A Crow Looked at Me nasce como um clássico imediato dentro da extensa discografia de Elverum – seja acompanhado pelo título de Mount Eerie ou como The Microphones. Versos que rivalizam com a mesma poesia sensível e realista incorporada há mais de uma década em registros como It Was Hot, We Stayed in the Water (2000) e The Glow Pt. 2 (2001). Um trabalho doloroso e necessário.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.