Noite de Lua Torta (2024, Balaclava Records) é um desses discos que grudam na cabeça do ouvinte logo na primeira audição. E não poderia ser diferente. Com as guitarras em destaque, Gael Sonkin e Vitor Terra não apenas abrem caminho para o primeiro trabalho de estúdio da Mundo Video, como despejam uma seleção de canções altamente cantaroláveis, ampliando consideravelmente o que a dupla carioca havia testado em A Hora das Revelações (2023) e todo o repertório acumulado desde a formação da banda há poucos anos.

Direto ao ponto, Noite de Lua Torta traz de volta a essência radiofônica de Lulu Santos e outros nomes do pop rock nacional, porém, preservando a identidade criativa da banda. A própria escolha do timbre das guitarras funciona como uma boa representação desse resultado, possibilitando à dupla a capacidade de transitar pelos mais variados estilos sem necessariamente fazer disso o estímulo para um material confuso.

Claro que isso tem lá seus riscos, vide a forte similaridade entre composições como a pegajosa O Que Nos Aproxima e Crescendo Juntos, faixa que mais parece uma cópia da canção entregue minutos antes pelos dois artistas. Entretanto, a capacidade da dupla em garantir ao público bons exemplares da música pop é tamanha que mesmo esses momentos de maior instabilidade acabam passando despercebidos. Bastam os minutos iniciais de Como Você Me Vê para que o ouvinte seja prontamente seduzido pela banda carioca.

E isso fica ainda mais evidente nos encontros com diferentes encontros propostos pela dupla ao longo da obra. Em Perto da Praia, por exemplo, é Ana Frango Elétrico quem engrandece a composição que parece convidar o ouvinte a dançar. Nada que prepare o ouvinte para o que se revela em Amante da Paz, música que não apenas se completa pela participação do rapper Putodiparis, como vai ao encontro do drum and bass, proposta que leva o som produzido pela Mundo Video para direções sempre impossíveis de prever.

São justamente esses momentos de maior experimentação que concedem ao trabalho da banda carioca um charme único. Exemplo disso é o que acontece em No Ritmo do Amor, composição que rompe com a urgência explícita nos minutos iniciais da obra e concede ao disco um caráter contemplativo, conceito que se completa pela presença de Letricia e Devil Gremory. Surgem ainda criações como a curiosa O Céu na Sua Mão, música de essência enérgica que avança de maneira imprevisível em direção ao hardcore/punk.

É como se Sonkin e Terra jogassem com as possibilidades a cada nova composição, proposta que cumpre com todos os requisitos de um disco de estreia e ainda deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos da banda. Canções que vão de um canto a outro, sempre de maneira inesperada, mas que estabelecem na intensa carga emocional presente nos versos e fluidez das guitarras um precioso componente de amarra.

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