Image
Crítica

Nao

: "And Then Life Was Beautiful"

Ano: 2021

Selo: RCA / Little Tokyo

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Amber Mark e Jamila Woods

Ouça: Woman, Antidote e Wait

7.5
7.5

Nao: “And Then Life Was Beautiful”

Ano: 2021

Selo: RCA / Little Tokyo

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Amber Mark e Jamila Woods

Ouça: Woman, Antidote e Wait

/ Por: Cleber Facchi 08/10/2021

Seja no reducionismo eletrônico de For All We Know (2016), de onde vieram composições como Bad Blood e Fool To Love, ou na busca por novas possibilidades, marca do sucessor Saturn (2018), casa de músicas como Orbits e Another Lifetime, os sentimentos e a evidente vulnerabilidade sempre foram encarados como parte significativa do som produzido pela cantora e compositora inglesa Neo Jessica Joshua, a Nao. Porém, mesmo nesse universo de permanente entrega, poucas vezes antes a artista de Nottingham pareceu tão honesta e confessional quanto nas canções de And Then Life Was Beautiful (2021, RCA / Little Tokyo).

Declaradamente influenciado pelo nascimento da primeira filha da cantora, o trabalho marcado pelo refinamento das vozes e melodias nasce como um exercício de acolhimento. “A vida não é perfeita. Ainda passamos por altos e baixos, mas ela pode ser linda como um todo. Isso é a vida. Você continua. Mas acima de tudo, você tenta entrar em um lugar de gratidão para que possa ver a vida em toda a sua beleza“, comentou Nao no texto de apresentação do trabalho. São canções que funcionam como uma fuga breve da realidade sombria em que vivemos, resultando em um precioso componente de cura sentimental.

E isso fica bastante evidente no que talvez seja a composição mais acessível do disco, Antidote. Completa pela participação do rapper nigeriano Adekunle Gold, a faixa que se divide entre o canto e a rima funciona como uma “uma descrição perfeita” de tudo aquilo que Nao sente em relação à própria filha, porém, partindo de uma linguagem e sentimentos universais, dialogando com uma parcela ainda maior do público. “Amor, eu amo ter você / Tire-me de mim mesma, você me salva / Você me traz vida, você me traz alegria“, cresce a letra da canção enquanto batidas e melodias ensolaradas convidam o ouvinte a dançar.

Esse mesmo direcionamento temático, porém, partindo de diferentes abordagens e estruturas rítmicas acaba se refletindo em outras composições ao longo da obra. É o caso da faixa-título do álbum, canção que inaugura o disco e sintetiza parte das experiências que serão incorporadas pela artista inglesa até o fechamento do trabalho. A própria faixa de encerramento do registro, Amazing Grace, funciona como um condensado sentimental de tudo aquilo que define as criações de Nao em And Then Life Was Beautiful e ainda aponta a direção para o futuro. “Agora minha igreja é selvagem, acho que vou plantar todas as minhas sementes aqui / Espero que floresçam porque estou pronta para estar aqui“, detalha.

Entretanto, importante notar que mesmo marcado pelo lirismo esperançoso, And Then Life Was Beautiful está longe de parecer uma obra escapista ou minimamente deslocada da realidade. De fato, a grande beleza do disco está na capacidade da artista em alternar entre composições radiantes e faixas marcadas pela sobriedade dos temas. Exemplo disso acontece na colaborativa Woman, composição em que discute feminismo negro em parceria com a cantora e compositora Lianne La Havas. A própria Wait, assumida individualmente, alcança um equilíbrio entre a doce melancolia e a necessidade de seguir em frente.

Completo pela participação do cantor e compositor serpentwithfeet, na agridoce Postcards, e o rapper Lukcy Daye, em Good Luck, And Then Life Was Beautiful mais uma vez reflete a potência criativa e equilíbrio de Nao durante toda a execução do trabalho. É como se a cantora transportasse para dentro de estúdio tudo aquilo que existe de mais genuíno nas próprias emoções, fazendo desse precioso exercício de exposição sentimental um importante componente de diálogo com o ouvinte. Um misto de dor, esperança, amor e celebração que orienta com naturalidade a formação do registro até o último instante.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.