Ano: 2021
Selo: Balaclava Records
Gênero: Rock, Samba
Para quem gosta de: Domenico Lancellotti e Kassin
Ouça: Maior, Há Um e Dia
Ano: 2021
Selo: Balaclava Records
Gênero: Rock, Samba
Para quem gosta de: Domenico Lancellotti e Kassin
Ouça: Maior, Há Um e Dia
Não seria uma surpresa se o primeiro trabalho de Pedro Sá em carreira solo fosse marcado pelo forte aspecto colaborativo. Desde o início da carreira, quando deu vida ao Mulheres Q Dizem Sim, o cantor, compositor, produtor e guitarrista carioca fez do diálogo com diferentes artistas um estímulo natural para a própria obra. E isso se reflete de forma bastante expressiva em cada um dos projetos em que esteve envolvido, como a Orquestra Imperial, os encontros com Moreno Veloso, Alexandre Kassin e Domenico Lancellotti, no +2, ou mesmo no diálogo com veteranos da música brasileira, caso de Gal Costa, Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, com quem colaborou na série de registros da cultuada trilogia Cê.
Entretanto, ao mergulhar nas canções de Um (2021, Balaclava Records), Sá não apenas investe na produção de um repertório reducionista, como trilha de forma solitária cada uma das faixas que recheiam o álbum. Com exceção do processo de composição do material, em que estreitou a relação com parceiros de longa data, como Lancelotti e Kassin, e dos técnicos de som que registraram as faixas em estúdio, tudo se resolve a partir da econômica combinação entre guitarra e voz. Um estrutura totalmente esquelética, crua, mas não menos interessante e hipnótica, capaz de capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição.
Livre de possíveis excessos, cada composição parece potencializar os sentimentos e versos sutilmente detalhados pelo artista durante toda a execução do material. São momentos de maior melancolia, personagens e paisagens descritivas que atravessam um Rio de Janeiro coberto pelas nuvens, conceito que dialoga diretamente com a imagem de capa do trabalho, uma fotografia registrada pelo próprio instrumentista. Instantes em que Sá transforma as próprias inquietações, medos e sentimentos em um importante componente de diálogo com o ouvinte, proposta que se reflete até a derradeira Mormaço.
Não por acaso, o músico carioca fez da atmosférica Maior a primeira composição do disco a ser revelada ao público. São movimentos calculados que se completam pelo uso atento das vozes e versos sempre confessionais, divididos entre a celebração romântica e o peso da saudade. “Seu olhar de tamanha pureza e beleza / Me encontra no mar sem fim / O infinito tocou em mim“, detalha em meio a guitarras timbrísticas. Essa mesma estrutura, porém, partindo de uma base melancólica, acaba se refletindo minutos à frente, na acinzentada Quem, faixa consumida pela incerteza das palavras e base deliciosamente ruidosa.
São justamente essas distorções e efeitos metálicos que garantem maior profundidade ao registro, rompendo com a base excessivamente simplista que consome os minutos iniciais da obra. É como se Sá alcançasse um ponto de equilíbrio entre o reducionismo de João Gilberto e os blocos colossais de Jimi Hendrix, duas das principais referências criativas para a realização do trabalho. E isso fica ainda mais evidente em Dia. Uma das primeiras composições do disco e serem desenvolvidas pelo instrumentista, a faixa parte de uma base econômica, mas que parece crescer à medida que o músico brinca com a manipulação dos elementos, ruídos e sobreposições que delirantemente ampliam os limites da canção.
Vem dessa base contrastante o estímulo para grande parte do trabalho. São composições que encolhem e crescem a todo instante, como um complemento aos versos que se dividem entre momentos de maior melancolia e doce celebração. É como se o guitarrista resgatasse uma série de elementos rítmicos, poéticos e sentimentais que tem sido explorados em mais de duas décadas de carreira, porém, partindo de uma abordagem essencialmente sintética e que preserva apenas o que há de melhor dentro de cada canção.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.