Ano: 2022
Selo: Som Livre
Gênero: Hip-Hop, Rap, Rock
Para quem gosta de: Marcelo D2 e Black Alien
Ouça: Distopia e O Ritmo e a Raiva
Ano: 2022
Selo: Som Livre
Gênero: Hip-Hop, Rap, Rock
Para quem gosta de: Marcelo D2 e Black Alien
Ouça: Distopia e O Ritmo e a Raiva
Lançado às vésperas do segundo turno da campanha presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, Jardineiros (2022, Som Livre), primeiro trabalho de estúdio do Planet Hemp em 22 anos, captura com perfeição o clima de insegurança e caos social que divide o país. Sequência ao material entregue pela banda fluminense em A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000),o registro traz de volta uma série de elementos que apresentaram o grupo no início da década de 1990, como o posicionamento em favor da legalização da maconha e o forte discurso político, porém, adaptados ao presente cenário.
Inaugurado por uma frase de Marcelo Yuka (1965 – 2019) extraída de uma entrevista dada ao Mídia Ninja – “Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável” –, Jardineiros diz a que veio logo nos primeiros minutos, na já conhecida Distopia. Acompanhados pelo rapper Criolo, o grupo formado por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru, convida o ouvinte a ir à luta enquanto pinta um retrato do atual cenário político do país. “Tá tudo errado, irmão, então pega a visão / Pobre defende rico, empregado, o patrão / Político vira herói, juízes, super heróis / Estão acima das leis, acima de tudo, acima de nós“, cresce a letra da composição, sempre direta e ainda íntima do material produzido nos antigos trabalhos da banda, caso de Usuário (1995) e Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Para (1997).
Vem justamente desse olhar atento para o presente cenário o estímulo para algumas das composições mais urgentes e interessantes do disco. São músicas como a combativa Fim do Fim (“Quem Decretou / Que Esse É O Fim? / Estou Apenas Começando / Inabalável Até Você Cair“) e Eles Também Sentem (“Pastor em nome de Deus / Se junta a miliciano / O diabo já tá aqui / E o povo passando pano“) que batem de frente contra o avanço do conservadorismo, o domínio das milícias e a hipocrisia que tomou conta do país pós-golpe de 2016. Um furioso exercício criativo que garante fluidez e potência ao repertório entregue pelo Planet Hemp.
No restante do álbum, o grupo faz jus ao próprio nome e mais uma vez se aprofunda na construção de faixas que tratam sobre a descriminalização, consumo, porte e plantio da maconha. São canções como Jardineiro, Puxa Fumo e Taca Fogo que naturalmente destacam a força dos versos, porém, pouco avançam criativamente ou parecem capazes de causar o mesmo impacto gerado nos primeiros registros da banda. Salve exceções, como a derradeira Onda Forte, música que destaca a produção do sempre minucioso Nave Beatz e o uso de trechos da obra de MC Carol, a sensação que prevalece é a de um trabalho monotemático.
Dos poucos momentos em que se distancia desse resultado, Jardineiros garante ao público preciosidades como O Ritmo e a Raiva. Enquanto a base da composição destaca o uso de elementos sintéticos e vai de encontro ao mesmo território criativo de estrangeiros como Run The Jewels, a letra em parceria com Black Alien se projeta de forma autobiográfica e ainda presta homenagem ao falecido Skunk (1967 – 1994), cofundador do Planet Hemp. Outra que chama a atenção é Veias Abertas, encontro com Tantão e os Fita e um necessário ponto de ruptura frente ao resultado moroso que se apodera da antecessora Remedinho.
Entre altos e baixos, prevalece em Jardineiros o lirismo atento e capacidade do grupo fluminense em provocar o ouvinte. Mesmo que muitas das composições deem voltas em torno de um mesmo objeto temático, replicando conceitos e direções criativas que apontam de forma previsível para os antigos registros da banda, sobrevive na construção dos versos e uso direcionado das batidas a formação de um repertório que está longe de decepcionar. Mais de duas décadas após o lançamento do último álbum de estúdio, o Planet Hemp continua tão atento e ainda sagaz quanto nos primeiros trabalhos de inéditas.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.