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Crítica

Porridge Radio

: "Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky"

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Dry Cleaning

Ouça: Back To The Radio e Birthday Party

8.0
8.0

Porridge Radio: “Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky”

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Dry Cleaning

Ouça: Back To The Radio e Birthday Party

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2022

Chega a ser desesperadora a forma como Dana Margolin explora os próprios sentimentos nas canções de Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky (2022, Secretly Canadian). Terceiro e mais recente álbum de estúdio do Porridge Radio,o registro funciona como uma soma do que existe de mais doloroso nas experiências vividas pela cantora e compositora britânica. São composições que renegam o amor, se aprofundam em questões existenciais e a todo momento reforçam a sensação de deslocamento da artista, como uma extensão natural do material entregue por Margolin no também doloroso, Every Bad(2020).

Mais uma vez acompanhada pelos parceiros Georgie Stott (teclados), Maddie Ryall (baixo) e Sam Yardley (bateria), Margolin, que assume as guitarras, composições e vozes ao longo do registro, se aprofunda na construção de um repertório marcado pelo uso de faixas crescentes, conceito que tem sido explorado desde o introdutório Rice, Pasta and Other Fillers (2016). São canções que começam pequenas, por vezes atmosféricas, ganham novas camadas a cada movimento do quarteto e sustentam na permanente repetição dos versos, sempre viscerais, um componente de reforço aos temas melancólicos detalhados pela artista.

Exemplo disso fica bastante evidente em End Of Last Year. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa não apenas se aprofunda em conflitos sentimentais, marca das criações de Margolin, como sintetiza parte das estruturas e temas instrumentais detalhados pela artista ao longo da obra. “Você quebra tudo que toca / Você quebra tudo que toca“, repete em meio a camadas de guitarras e sintetizadores sufocantes. A própria Back To The Radio, mesmo partindo de uma temática diferente, utiliza de uma arquitetura similar, reprimindo e confortando o ouvinte na mesma proporção.

É como um convite a partilhar das angústias, traumas e experiências mais íntimas da artista inglesa. Um doloroso exercício de exposição sentimental, conceito que embala o desenvolvimento do álbum durante toda sua execução. O próprio título e imagem de capa do trabalho, com suas curvas, quedas e tortuosas estruturas ascendentes, parece reforçar essa sensação. Perfeita representação desse resultado acontece em Birthday Party. São pouco mais de quatro minutos em que Margolin e seus parceiros investem na construção de um material que encolhe e cresce a todo instante, bagunçando a experiência do ouvinte.

Mesmo quando se distancia desse resultado, como na contida Trying, Margolin reserva os minutos finais da canção para investir em um exercício totalmente turbulento. Dessa forma, Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky se revela ao público como uma obra marcada pela imprevisibilidade dos elementos. São composições geradas a partir da criativa sobreposição de vozes, batidas e temas instrumentais, estímulo para a montagem de músicas como U Can Be Happy If U Want To, The Rip e demais faixas que se revelam ao público em pequenas doses, potencializando a melancolia expressa durante a construção dos versos.

Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha o Porridge Radio. Observado de maneira atenta, parte expressiva das composições apresentadas ao longo do disco utilizam de temas e conceitos bastante similares ao material entregue em Every Bad. A diferença está na forma como Margolin se aprofunda ainda mais em temas sentimentais e momentos de maior vulnerabilidade. São canções que não apenas estreitam a relação com o ouvinte, como parecem pensadas para estimular o que existe de mais doloroso nas memórias e experiência traumáticas acumuladas por qualquer indivíduo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.