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Crítica

Putodiparis

: "Música da Putaria Brasileira"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: SD9 e LEALL

Ouça: Bye Bye, Baby Baba e Hillary Banks

7.8
7.8

Putodiparis: “Música da Putaria Brasileira”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: SD9 e LEALL

Ouça: Bye Bye, Baby Baba e Hillary Banks

/ Por: Cleber Facchi 17/10/2022

Não espere pelo óbvio ao mergulhar nas canções de Música da Putaria Brasileira (2022, Independente). Mais recente criação de Putodiparis, o trabalho de nove faixas mostra a capacidade do artista carioca em jogar com a construção das rimas e uso pouco usual das bases em uma abordagem tão provocativa quanto satírica. São criações que partem de um território criativo há muito explorado por outros nomes do rap nacional, sempre inclinados ao resgate de composições empoeiradas da música popular brasileira, porém, deliciosamente pervertidas pelo bom humor e poesia sacana, muitas vezes explícita, lançada pelo rapper.

A exemplo de tudo aquilo que havia testado no disco anterior, de onde vieram músicas como Putaria e a divertida Chico Buarque Interlúdio, Putodiparis se aprofunda na construção de um repertório marcado pelos excessos. Partindo de diferentes identidades criativas, como a de Sr. Armani, o artista detalha noites de sexo envelopadas por marcadas de luxo e cenas sempre descritivas. “Sr. Armani colocou de lado sua calcinha / Ela quer libertinagem, ela pede putaria … Tá querendo se entreter / Ouvindo MPB“, detalha logo nos minutos iniciais, em MPB Intro, faixa que aponta a direção seguida pelo rapper ao longo do trabalho.

Embora convincente durante toda a execução do material, não há como ignorar que muitas das canções apresentadas em Música da Putaria Brasileira utilizam de uma abordagem bastante similar ao material entregue no álbum anterior. O próprio Putodiparis utiliza de pequenas repetição e assinaturas sonoras que transportam o ouvinte para o mesmo território desbravado no repertório entregue há poucos meses. São composições que detalham aventuras noturnas, personagens femininas, delírios e momentos de prazer de forma sempre característica, como se o ouvinte desse voltas em torno de um mesmo universo criativo.

É aí que entra em cena a produção minuciosa que rompe com qualquer traço de conforto ao longo da obra. Sob o título de Júlio Sosa, Putodiparis mais uma vez brinca com a construção de um material que segue o ritmo cadenciado das rimas, porém, de forma imprevisível, torta. E isso fica bastante evidente próximo ao encerramento do trabalho, em Hillary Banks. Enquanto os versos vão de citações ao maquinário bélico à personagem homônima em Um Maluco no Pedaço, o artista oferece sua própria interpretação de Charisma, do jazzista Tom Browne, música eternizada pelos Racionais MC’s em Tô Ouvindo Alguém me Chamar.

Nada que prepare o ouvinte para o material entregue em Zaza, faixa que chama a atenção pelo inusitado uso da música de abertura de Castelo Rá-Tim-Bum como base para a construção das rimas. Minutos à frente, em Bye Bye, são trechos de Caminhemos, interpretada por Marilia Medalha, que concedem ao disco fino toque de melancolia, estrutura que contrasta com a completa crueza das rimas. “Bye-bye, atirei bem na sua cara / Sua cara eu pisei, beija minha sola / Sangue no meu doze mola“, dispara. Mesmo canções já conhecidas, como Baby Baba, ganham novo significado quando observadas como parte do trabalho.

Pontuado pela breve participação de nomes como Brocasito, Xitter e Sheik S, esse último, colaborador de longa data do artista, Putodiparis aponta para diferentes direções criativas, porém, a todo momento regressa a um território bastante particular. O mais interessante talvez seja perceber como tamanha quantidade de informações, diferentes fragmentos instrumentais e referências se apresentam ao público em um curto intervalo de duração. São criações de um a dois minutos, tempo mais do que suficiente para que o rapper demonstre sua capacidade em brincar com as possibilidades e atrair a atenção do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.