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Crítica

Rubel

: "As Palavras"

Ano: 2023

Selo: Coala Records

Gênero: Pop Rock, MPB

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Bala Desejo

Ouça: Não Vou Reclamar De Deus e Lua de Garrafa

6.0
6.0

Rubel: “As Palavras”

Ano: 2023

Selo: Coala Records

Gênero: Pop Rock, MPB

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Bala Desejo

Ouça: Não Vou Reclamar De Deus e Lua de Garrafa

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2023

Com as portas abertas para novas possibilidades durante o lançamento de Casas (2018), parecia natural que Rubel migrasse em busca de um repertório cada vez mais abrangente em relação ao introdutório Pearl (2013). Entretanto, o que se percebe com a chegada de As Palavras (2023, Coala Records) é uma completa exacerbação desse resultado. Movido pela ânsia em estreitar laços com novos parceiros criativos e provar de diferentes desdobramentos da música brasileira, o artista carioca revela uma obra inchada, irregular e que soa muito mais como um conjunto de ideias aleatórias do que necessariamente um álbum consistente.

Embora efetivo do ponto de vista comercial, como se pensado para a funcionalidade das plataformas de streaming, As Palavras peca pela previsibilidade. São os mesmos velhos atores que tem circulado em uma série de outros lançamentos recentes. Exemplo disso fica bastante evidente em Torto Arado. Inspirada pelo fenômeno literário de Itamar Vieira, a canção de inegável refinamento estético pouco avança em relação a tantos outros registros envolvendo Liniker e Luedji Luna, caso de Ojunifé (2021), de Majur, Sal (2022), de Anelis Assumpção, e Liberdade (2023), de Jonathan Ferr. Uma MPB paisagística com pitadas de afro-soul.

Entretanto, para além da forte sensação de desgaste e ideias que há muito vem sendo exploradas por diferentes artistas, outro elemento de desconforto em As Palavras diz respeito ao uso estereotipado de ritmos periféricos e completo esvaziamento de determinados estilos, como uma ruptura em relação ao equilíbrio expresso no disco anterior. É o caso de Put@ria, música em que se apropria da estética e conceitos do funk carioca, veste uma máscara momentânea, falsa, porém, acaba engolido pelas rimas de BK e MC Carol. Outro que rouba a cena é Xande de Pilares, com quem divide Grão de Areia, canção que mais uma vez destaca o esmero dos arranjos, mas que acaba se perdendo frente aos excessos da obra.

Pelo menos, Rubel está longe de tropeçar no escapismo vulgar de outros exemplares recentes da música brasileira, como Esperança (2021), de Mallu Magalhães. E isso fica bem representado em Na Mão do Palhaço, uma marchinha satírica em que detalha as aventuras de um típico “cidadão de bem” durante o Carnaval. É como uma extensão do mesmo canto político anteriormente testado em O Homem da Injeção II. A própria escolha em regravar Assum Preto e Forró no Escuro, ambas de Luiz Gonzaga, potencializa esse aspecto contestador do registro, direcionamento também incorporado em Forró Violento, minutos antes.

Claro que esse esforço em provar de diferentes temáticas não distancia o compositor dos momentos de maior melancolia e doce romantismo expressos nos trabalhos anteriores. E como Rubel faz isso bem. Do afetuoso pedido de desculpas, em Amor de Mãe, passando pela celebração à amizade, em Lua de Garrafa, parceria com Milton Nascimento, não são poucos os momentos em que o artista confessa sentimentos e estreia laços com o ouvinte. Mesmo quando regressa ao território explorado em Casas, como no soul empoeirado de Não Vou Reclamar De Deus e em Toda Beleza, difícil não se deixar conduzir pelo registro.

O problema é que mesmo quando garante ao público boas composições, e não são poucas, Rubel acaba soterrado pelo incessante atravessamento de informações e estruturas incompletas que mais confundem do que necessariamente contribuem para o desenvolvimento do disco. Tudo é encarado de forma aleatória e efêmera. São fragmentos instrumentais e poéticos que apontam para os mais variados campos da música, estabelecem diálogos com diferentes colaboradores, mas nunca concretizam uma ideia. É como um amontoado torto de elementos, estrutura que se reflete na própria faixa-título do álbum, parceria com Tim Bernardes, mas que acaba orientando a experiência do ouvinte do princípio ao encerramento do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.