Image
Crítica

Sault

: "Today & Tomorrow"

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Rock, Funk

Para quem gosta de: The Go! Team e Ezra Collective

Ouça: Lion e The Plan

6.8
6.8

Sault: “Today & Tomorrow”

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Rock, Funk

Para quem gosta de: The Go! Team e Ezra Collective

Ouça: Lion e The Plan

/ Por: Cleber Facchi 22/12/2022

Embora utilize de uma abordagem multidisciplinar, com os cinco discos lançados no início de novembro, os integrantes do Sault adotaram uma proposta criativa bastante específica em cada um dos registros. Enquanto 11 (2022) destaca a relação de Inflo e seus parceiros com o neo-soul, Aiir (2022) flerta com a música erudita e Earth (2022) sustenta nos coros de vozes o estímulo para parte expressiva do material. Interessante perceber em Today & Tomorrow (2022, Forever Living Originals) uma natural combinação de todos esses elementos, porém, destacando o uso das guitarras e a relação do coletivo britânico com o rock.

Escolhida como música de abertura do trabalho, In the Beginning utiliza dos mais de seis minutos de duração para apresentar parte das regras e conceitos que serão incorporadas pelo grupo ao longo de todo o registro. São ecos de Sly & The Family Stone e Funkadelic, direcionamento reforçado no uso destacado das guitarras, batidas secas e linha de baixo sempre impecável, marca de grande parte das criações do Sault. Um lento desvendar de informações, estrutura que se completa pelo uso das vozes, inicialmente discretas, porém, cada vez mais evidentes. “O amor nos mantém vivos“, cresce a letra da composição.

Embora convença nos minutos iniciais, Today & Tomorrow acaba se revelando como um trabalho que pouco avança criativamente. Como indicado logo na canção seguinte, Run, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias, ritmos e temáticas. E isso fica ainda mais evidente no repetitivo coro de vozes infantis que ocupa parte expressiva do material. De Heal the World a The Jungle, passando por The Greatest Smile, perceba como Inflo e seus parceiros de estúdio parecem ancorados em uma formatação tediosa e previsível, inviabilizando a pluralidade de elementos tão característica nos registros anteriores.

Nos raros momentos em que rompe com essa estrutura, Today & Tomorrow aporta em um território criativo talvez impensado quando voltamos os ouvidos para os primeiros trabalhos da banda. Exemplo disso fica bastante evidente na dobradinha composta por The Plan e Money. São pouco menos de cinco minutos em que o grupo se entrega ao punk em uma abordagem totalmente imprevisível e enérgica. Mesmo os coros de vozes, repetitivos no restante da obra, ganham novo significado, ampliando os limites da registro. Pena que tudo não passa de uma curva breve, vide o regresso ao mesmo núcleo temático.

Uma vez imerso nesse ambiente tão característico, curioso perceber a construção de faixas como Lion. Embora íntima do mesmo tipo de som produzido no restante da obra, sobrevive na fluidez dos arranjos e fina tapeçaria percussiva um diálogo com os antigos trabalhos da banda. É como uma tentativa do grupo em adaptar parte do som que vem sendo explorado desde a década passada. A própria Above The Sky, música de encerramento do álbum, utiliza de uma série de conceitos anteriormente testados pelo coletivo. Nada que diminua a potência das guitarras, direcionamento que se reflete até os minutos finais da canção.

Com base nesse delirante cruzamento de informações, Today & Tomorrow se revela ao público como o trabalho menos consistente já produzido pelo coletivo britânico. Mesmo que boas ideias sejam percebidas em pontos específicos do material, como nos momentos de maior aceleração e crueza da obra, prevalece a sensação de um disco incompleto, por vezes confuso. Claro que essa maior instabilidade no processo de criação do álbum em nenhum momento diminui o que parece ser o principal traço do Sault, sempre inclinado a provar de novas sonoridades e diferentes direções criativas a cada novo lançamento.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.