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Crítica

Soccer Mommy

: "Sometimes, Forever"

Ano: 2022

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Hatchie

Ouça: Shotgun e Unholy Affliction

8.3
8.3

Soccer Mommy: “Sometimes, Forever”

Ano: 2022

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Hatchie

Ouça: Shotgun e Unholy Affliction

/ Por: Cleber Facchi 07/07/2022

Mesmo partindo de um direcionamento criativo bastante específico, sempre centrado em memórias de um passado ainda recente e incontáveis desilusões sentimentais, Sophie Allison tem se forçado a testar os próprios limites como Soccer Mommy. E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos de Sometimes, Forever (2022, Loma Vista), terceiro e mais recente álbum de estúdio da compositora norte-americana. Enquanto os versos da introdutória Bones evidenciam o que há de mais doloroso no som produzido pela artista, camadas de guitarras, efeitos e ruídos ocasionais parecem pensados de forma a tensionar a experiência do ouvinte e reforçar a dor expressa em cada mínimo fragmento da composição.

Parte desse resultado vem do esforço de Allison em estreitar a relação com o sempre inventivo Daniel Lopatin, o Oneohtrix Point Never, produtor do álbum e artista que já colaborou com nomes como The Weeknd e FKA Twigs. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que preserva tudo aquilo que a artista de Nashville havia testado durante o lançamento do disco anterior, Color Theory (2020), porém, utilizando de um novo desdobramento estético. São canções marcadas pelo uso de texturas e camadas de sintetizadores que vão de ambientações oníricas a momentos de maior experimentação.

Uma vez imersa nesse ambiente enevoado, Allison e o parceiro de produção se concentram na montagem de um repertório que se revela ao público em pequenas doses. Composições que começam pequenas, explodem conceitualmente e utilizam de pequenos excessos e captações granuladas de forma a distorcer qualquer traço de linearidade. Uma das primeiras músicas do disco a serem reveladas ao público, Shotgun funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco mais de quatro minutos em que somos soterrados por guitarras ruidosas e efeitos que evocam as criações de nomes como My Bloody Valentine.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São músicas como Unholy Affliction e Darkness Forever em que Allison alterna entre ambientações sutis e blocos consideráveis de ruídos. Um permanente atravessamento de informações, estrutura que acaba se refletindo na própria construção dos versos. Composições que vão do sufocamento à libertação em um curto intervalo de tempo. É como um acumulo natural de tudo aquilo que a artista tem produzido desde a estreia com Clean (2018), efeito da profunda vulnerabilidade expressa até a chegada da derradeira Still.

O problema é que muito desses componentes líricos e temáticas tem sido exploradas pela artista há bastante tempo. São canções centradas em relacionamentos fracassado e confissões que reforçam a sensação de deslocamento vivida pela cantora. Dos poucos momentos em que perverte esse resultado, como em newdemo, Allison garante ao público uma das criações mais interessantes do registro. Trata-se de uma delicada reflexão sobre o domínio capitalista e o esforço em romper com essa estrutura, proposta que se completa pelo uso dos sintetizadores e ambientações delirantes que parecem típicas da obra de Lopatin.

Independente dessas pequenas repetições temáticas, Sometimes, Forever em nenhum momento deixa de surpreender o ouvinte. Acompanhada de Lopatin durante todo o processo de criação do trabalho, Allison entrega ao público uma obra em que sutilmente perverte traços da própria identidade artística. São canções que continuam a confessar algumas das principais referências criativas da cantora, apontando de forma bastante decidida para o som produzido na década de 1990, porém, mergulhadas em camadas de distorção, quebras e costuras rítmicas que tornam o processo de escuta do material sempre instigante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.