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Crítica

Taco de Golfe

: "Memorandos"

Ano: 2021

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock Alternativo, Math Rock, Jazz

Para quem gosta de: Mahmed e EATNMPTD

Ouça: O Fio e Tratados de Obrigação

8.2
8.2

Taco de Golfe: “Memorandos”

Ano: 2021

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock Alternativo, Math Rock, Jazz

Para quem gosta de: Mahmed e EATNMPTD

Ouça: O Fio e Tratados de Obrigação

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2021

Memorandos (2021, Balaclava Records) é um desses discos que fazem você se perguntar: “como é que eu vim parar aqui?“. Naturalmente imprevisível, como tudo aquilo que os integrantes da Taco de Golfe têm produzido desde os primeiros registros autorais, o trabalho de essência labiríntica, conceito reforçado logo na imagem de capa, parece jogar com a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. São canções que transitam por entre estilos de maneira sempre inesperada, torta, como um natural acumulo de informações, diferentes referências criativas e experimentos que vão de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa.

Sequência ao material entregue no também inventivo Nó Sem Ponto II (2020), Memorandos chama a atenção pela economia dos elementos frente a grandeza do repertório apresentado pela banda. Primeiro registro de inéditas do grupo sergipano assumido integralmente pelos músicos Alexandre Damasceno (bateria) e Gabriel Galvão (guitarras, baixo), o trabalho de essência reducionista estabelece na economia dos instrumentos o estímulo para um álbum marcado pelo permanente tensionamento das informações. São composições que encolhem e crescem a todo instante, como fragmentos de uma obra viva, versatilidade que parece refletida até os últimos segundos do material.

E isso fica bastante evidente em O Fio. Partindo de uma base atmosférica, a canção rapidamente percorre um labirinto de sons e quebras conceituais que transitam por diferentes campos da música. Instantes em que a dupla de Aracaju vai de encontro ao jazz de Chicago, lembrando as criações de artistas como Tortoise, porém, preservando a própria identidade criativa. A mesma riqueza de ideias acaba se refletindo em Significando Dados, composição que evoca Battles e carrega nas guitarras timbrísticas de Galvão a passagem para um dos momentos mais sofisticados do disco, estrutura que ganha ainda mais destaque nas ambientações etéreas da faixa seguinte, Vivendo Juntos.

Claro que essa busca da dupla pela formação de músicas contemplativas e serenas não interfere na produção de faixas totalmente delirantes, ainda íntimas dos antigos trabalhos da banda. Exemplo disso acontece em Tratados de Obrigação. São pouco menos de três minutos em que Damasceno e Galvão se revezam na construção de um som turbulento, forte, arremessando o ouvinte de um canto a outro. A mesma pulsação, porém, partindo de outro direcionamento estético, acaba se refletindo nas já conhecidas Pessoa que Fala e Das Coisas, composições que apontam de forma particular para as criações de veteranos dos anos 1990, principalmente reducionistas como Slint e Don Caballero.

Se por um lado essa fluidez enérgica garante ao público algumas das melhores composições do disco, por outro, evidencia o que talvez sejam os momentos de maior desequilíbrio da obra. São faixas como Eu Estava Lá, Em Pé e Badoque que mais parecem esboços quando próximas de outras criações reveladas ao longo do registro. A própria sequência de abertura do trabalho se projeta de maneira infinitamente menor quando próxima do núcleo do álbum, quando as canções apresentadas pela dupla são ampliadas, possibilitando às guitarras de Galvão um maior desenvolvimento. Mesmo a bateria de Damasceno parece melhor explorada nesses momentos de evidente imersão.

Independente do caminho percorrido ao longo da obra e das decisões criativas tomadas pela dupla em estúdio, Memorandos, assim como o registro que o antecede, evidencia a capacidade da Taco de Golfe em capturar a atenção do ouvinte durante toda a execução do trabalho. “A gente se soltou muito na gravação do disco”,comentou Damasceno no texto de apresentação do material. E essa riqueza de ideias se reflete mesmo nos momentos de maior instabilidade do álbum. São canções essencialmente curtas e efêmeras, porém, sempre adornadas por incontáveis camadas instrumentais, ruídos e quebras rítmicas que sutilmente ampliam o campo de atuação da banda sergipana.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.