Image
Crítica

Tegan and Sara

: "Crybaby"

Ano: 2022

Selo: Mom + Pop

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: MUNA e Metric

Ouça: Faded Like a Feeling e Yellow

6.0
6.0

Tegan and Sara: “Crybaby”

Ano: 2022

Selo: Mom + Pop

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: MUNA e Metric

Ouça: Faded Like a Feeling e Yellow

/ Por: Cleber Facchi 12/01/2023

Por mais de desconcertante que possa parecer, a lâmina escondida no sorvete que estampa a imagem de capa de Crybaby (2023, Mom + Pop) funciona como uma boa representação de tudo aquilo que caracteriza o som produzido pela dupla Tegan and Sara. São versos sempre melancólicos, por vezes dolorosos, que se espalham em meio a camadas de sintetizadores e melodias aprazíveis, como se pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. Um exercício criativo que parte de relacionamentos fracassados e experiências pessoais para detalhar canções marcadas pela universalidade dos temas.

Já faz um tempo, perdemos o contato / Me sinto uma estranha … Eu mudo como as estações / E você desapareceu como um sentimento“, cresce a letra de Faded Like a Feeling, composição que não apenas sintetiza parte das experiências incorporadas pelas duas artistas ao longo do trabalho, como traz de volta o mesmo pop reducionista que apresentou a dupla canadense no final da década de 1990. E ela está longe de ser a única. A todo momento, as irmãs Tegan e Sara Quin mergulham na construção de faixas orientadas pelo forte aspecto confessional, direcionamento que parece pensado para estreitar laços com o ouvinte.

São composições que tratam sobre abandono, medo e solidão, temas talvez potencializados durante o período pandêmico, mas que destacam o lirismo romântico que há tempos vem sendo explorado pela dupla. “Eu deveria ter cuidado com a condição em que estou / Deixar esses sentimentos que sinto do lado de dentro / Fora do meu controle“, reflete em Under My Control, música que funciona como uma boa representação de tudo aquilo que as irmãs Quin buscam desenvolver ao longo da obra. É como um delicado exercício de exposição emocional, indicativo da completa entrega das duas artistas em Crybaby.

Pena que muitos desses temas foram exaustivamente explorados pela dupla de Calgary ao longo das últimas duas décadas. Mais do que isso, Crybaby é uma obra que se apoia no mesmo pop retrô que as irmãs Quin já haviam testado nos registros anteriores, vide a forte similaridade com o material revelado em Heartthrob (2013) e Love You to Death (2016). A própria composição de abertura, I Can’t Grow Up, com seus sintetizadores nostálgicos e vozes carregadas de efeitos, parece replicar a mesma estrutura e caráter pegajoso de Everything Is Awesome, música produzida para a trilha sonora de Uma Aventura Lego (2014).

Embora previsível, Crybaby, assim como os registros que o antecedem, destaca o domínio criativo e capacidade da dupla em dialogar com a música pop de forma sempre particular. Quarta composição do disco, Yellow talvez seja a principal representação desse resultado. Da base instrumental, agora potencializada pela presença do produtor John Congleton (Angel Olsen, Franz Ferdinand), passando pela construção dos versos, sempre pegajosos, difícil não se deixar conduzir pelo material entregue pelas duas artistas, conceito que se reflete em outros momentos da obra, como na cantarolável Smoking Weed Alone.

Sequência ao material entregue em Hey, I’m Just Like You (2019), trabalho concebido a partir de faixas resgatadas dos antigos cadernos da dupla durante o ensino médio, Crybaby reforça a imagem de uma banda criativamente estagnada. Mesmo que boas composições sejam percebidas ao longo da obra, vide as já citadas Faded Like a Feeling e Yellow, prevalece a sensação de um registro marcado pela repetição e uso de fórmulas há muito desgastadas não somente pelas duas artistas, mas outros nomes recentes da música pop. Canções que invariavelmente convencem em uma primeira audição, porém, tendem ao esquecimento.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.