Disco: “Heartthrob”, Tegan and Sara

/ Por: Cleber Facchi 31/01/2013

Tegan and Sara
Canadian/Indie Pop/Female Vocalists
http://www.teganandsara.com/

Por: Cleber Facchi

O pop sempre esteve ao lado das irmãs Tegan e Sara Quin. Protegidas pelo peso leve do rock quando surgiram com o disco Under Feet Like Ours (1999), as canadenses mantiveram ao longo dos anos uma forte relação com as emanações vocais e toda a sutileza musical que vez ou outra raspa no que há de mais comercial no mundo da música. Basta observar os grandes exemplares da extensa carreira da dupla para perceber que até nos pontos mais sombrios, a busca por um resultado radiofônico está presente de forma ativa. Sem medo de assumir essa exata tonalidade, o duo faz do sétimo registro em estúdio uma verdadeira exaltação aos vocais entusiasmados e ritmos que chamam para dançar, mesmo que a tristeza vez ou outra resolva aparecer.

Movido pela mesma proposta sonora que direciona boa parte do último disco de Cat Power, Sun, Heartthrob (2013, Sire) intercala sintetizadores leves e batidas eletrônicas enquanto uma sucessão de versos delineados pela dor passeiam suavemente ao fundo do trabalho. Mais coerente e bem estruturado registro em estúdio da dupla desde os exageros no começo da década passada, o álbum partilha da mesma formatação musical que guia o anterior Sainthood (2009), com a diferença de que o atual projeto invariavelmente tende ao ritmo e ao clima atrativo das pistas de dança.

Logo na faixa de abertura a dupla deixa fluir grande parte das experiências que vão direcionar o restante do trabalho. Fácil, dançante e dotada de um refrão tão pegajoso quanto qualquer outro invento das canadenses, Closer é uma daquelas faixas que prendem em uma única audição. Transformada dentro da proposta musical que há tempos acompanha o trabalho do duo, a canção evolui a melancolia convencional de forma a invadir os ouvidos do espectador de maneira bem humorada e cativante. Quase uma interpretação particular e intencionalmente ingênua do que Robyn alcançou com Body Talk (2010), a canção não apenas abre o disco de forma assertiva, como estimula o que a dupla amplia logo na trinca de composições seguintes.


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Se a faixa brinca com o contraste entre a dança e a depressão, Goodbye, Goodbye, I Was a Fool e I’m Not Your Hero elevam ainda mais essa medida desconfortável e estranhamente atrativa. Sem se desvirtuar em nenhum instante da verve animada que se esconde pelo disco, a tríade de composições usam do espaço para aperfeiçoar os versos carregados pela saudade. A diferença em relação aos discos passados está na carga de dor (e desespero) que outrora guiava o trabalho das irmãs Quin. A melancolia, ainda que existente, se mantém controlada, como se a dupla tratasse sobre os versos consumidos pela tristeza, sem jamais abandonar um curioso sorriso no canto da boca.

Com produção dividida entre três magos da música pop recente – Greg Kurstin, Mike Elizondo e Justin Meldal-Johnsen -, o disco pouco a pouco incorpora aspectos típicos do que circula pelo cenário e pela mente de seus construtores. Pincelando tendências que vão de Foster the People a Marina and The Diamonds, o álbum só não cai em exageros por conta das rédeas firmes assumidas durante todo o tempo Tegan e Sara, impedindo que o álbum ultrapasse os limites ou as relações básicas com os discos anteriores. Como resultado, faixas aos moldes de Drove Me Wild não dispensam o caráter de inovação (e familiaridade com o pop) ao passo que diversas marcas do passado recente da dupla se mantém tão ativas e influentes quanto em outros discos.

De acabamento atrativo e se assumindo como a obra mais bem resolvida de toda a discografia da dupla, Heartthrob talvez passe despercebida para quem já estava acostumado com o exagero sentimental que outrora tingia as composições das canadenses. A própria incorporação dicotômica do álbum talvez desestimule o ouvinte em uma primeira audição, contudo, é preciso notar que uma vez dentro do cenário bem resolvido pelas duas irmãs, difícil não se encantar pela sequência rara de boas composições que mesmo entristecidas convidam o ouvinte para dançar.


Tegan and Sara

Heartthrob (2013, Sire)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Robyn, Uh Huh Her e Metric
Ouça: Closer e I was a Fool

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.