Image
Crítica

Terno Rei

: "Gêmeos"

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Pop Rock

Para quem gosta de: eliminadorzinho e Adorável Clichê

Ouça: Aviões, Brutal e Dias da Juventude

8.2
8.2

Terno Rei: “Gêmeos”

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Pop Rock

Para quem gosta de: eliminadorzinho e Adorável Clichê

Ouça: Aviões, Brutal e Dias da Juventude

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2022

Longe do repertório enevoado que os integrantes da Terno Rei haviam testado no introdutório Vigília (2014), Violeta (2019), terceiro álbum de estúdio do grupo paulistano, não apenas serviu para estreitar a relação do quarteto com a música pop, conceito iniciado durante a produção de Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016), como aproximou o som produzido pela banda de uma parcela ainda maior do público. Utilizando de uma linguagem deliciosamente acessível e nostálgica, Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Vinha (guitarra) e Luis Cardoso (bateria) fizeram dos próprios sentimentos um importante componente de diálogo com o ouvinte, estímulo para a construção de faixas como Solidão de Volta e Yoko.

É partindo desse mesmo direcionamento estético que o grupo abre passagem para o quarto registro de inéditas da carreira. Com o título representativo de Gêmeos (2022, Balaclava Records), o álbum que mais uma vez conta com produção de Amadeus De Marchi, Gustavo Schirmer e Janluska, utiliza de uma série de conceitos bastante característicos da banda, como a forte vulnerabilidade dos versos, mas que se permite provar de novas experiências, medos e inquietações. São canções que tratam sobre as angústias vividas durante o período de isolamento social, mesmo pontuadas por momentos de maior otimismo e celebração.

Que bom ver você de novo / No ano mais triste de nossa vidas“, detalha Sater, na já conhecida Aviões, música que sintetiza parte das experiências incorporadas pela banda durante toda a execução do material. É como um precioso exercício de exposição sentimental, estrutura que parte das memórias e traumas recentes do compositor, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com ouvinte. Não por acaso, a banda fez de Dias da Juventude a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. São pouco menos de três minutos em que o grupo vai de recordações empoeiradas da adolescência ao início da vida adulta em uma delicada combinação emoções e conflitos que utilizam de uma linguagem universal. “Onde você vai estar? / Eu quero te lembrar dos dias da juventude“, cresce a letra da canção, como um convite.

Uma vez imerso nesse cenário onde passado e presente se confundem a todo instante, cada faixa funciona como um curioso exercício criativo nas mãos do quarteto. Enquanto músicas como Só Eu Sei vão de encontro ao pop rock dos anos 2000, soando como uma canção esquecida da trilha sonora de Malhação, outras, como Difícil e Retrovisor, retrocedem ainda mais. São arranjos nostálgicos que vão da programação noturna da Alpha FM ao pop da década de 1980, estrutura que se completa pelos versos marcados pelo forte caráter existencialista (“Retrovisor / Fixo no meu peito / De onde sou / Pra onde parto“).

Nesse sentido, Gêmeos preserva uma série de elementos que contribuíram para a popularização do som produzido pela Terno Rei, porém, provando com sutileza de novas possibilidades e diferentes direções criativas. É como um complemento ao material entregue no disco anterior, estrutura que vai do timbre das guitarras ao uso atmosférico dos sintetizadores. Claro que isso não interfere na criação de músicas pontuadas por momentos de maior transformação. Exemplo disso acontece em Brutal, faixa que encanta pelo uso instrumental das vozes e evidente refinamento dado aos arranjos, lembrando as criações da Tuyo em Chegamos Sozinhos Em Casa (2021), trabalho que também contou com a produção de Janluska.

Independente da trilha percorrida em estúdio pelo quarteto, prevalece em Gêmeos a força dos sentimentos e versos cuidadosamente detalhados dentro de cada composição. Do momento em que tem início, em Esperando Você, até alcançar a derradeira Olha Só, evidente é a capacidade de Sater em encapsular a sensação de deslocamento e melancolia compartilhada por diferentes indivíduos. São canções que parecem nascidas no fundo de um quarto escuro, iluminadas apenas pela tela do celular, como um produto das inquietações e momentos de maior vulnerabilidade a que fomos submetidos nos últimos meses.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.