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Crítica

Tirzah

: "Trip9love…???"

Ano: 2023

Selo: Domino

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Jessy Lanza e ABRA

Ouça: Promises, 2 D I C U V e No Limit

8.0
8.0

Tirzah: “Trip9love…???”

Ano: 2023

Selo: Domino

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Jessy Lanza e ABRA

Ouça: Promises, 2 D I C U V e No Limit

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2023

Lançado de surpresa, Trip9love…??? (2023, Domino) é o terceiro e mais recente trabalho de estúdio de Tirzah. Com produção assinada por Mica Levi, com quem a artista inglesa tem colaborado criativamente desde a entrega do introdutório Devotion (2018), o registro de onze faixas pode até seguir a trilha dos últimos lançamentos da cantora, porém, abre passagem para um universo de novas possibilidades. São canções que confessam sentimentos, medos e inseguranças em meio a batidas tortas e camadas de ruídos que levam o R&B reducionista da britânica para um território marcado pela desconstrução dos elementos.

Inaugurado pelos pianos densos e atmosfera sufocante de F22, Trip9love…??? segue de onde a cantora parou há dois anos, durante o lançamento de Colourgrade (2021). São fragmentos poéticos que ganham forma em uma base cíclica, como a passagem para um território particular e sempre intimista de Tirzah. “Minha cabeça está girando / Estou deitada sozinha / Escolhi isso / Porque é tudo que eu já conheci“, canta na posterior Promises, música que sintetiza parte das angústias exploradas pela artista ao longo da obra, direcionamento reforçado com a chegada da canção seguinte, a também melancólica U All The Time.

Passada essa sequência de abertura, como uma extensão natural de tudo aquilo que foi incorporado aos últimos trabalhos de Tirzah, Trip9love…??? desacelera e ganha novas tonalidades com a chegada de Their Love. Regida em essência pelos teclados e vozes de Tirzah, a canção utiliza desse reducionismo como um estímulo para a construção dos versos que mais uma vez tratam sobre amor, rompimento e solidão. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante em No Limit, música que destaca o uso fragmentado das batidas e bases labirínticas, soando como uma composição perdida do Portishead.

A partir desse ponto, Trip9love…??? começa a ficar cada vez mais sombrio e musicalmente imprevisível. Exemplo disso fica bastante evidente em Today, composição que parte de uma base de pianos, porém, chama a atenção pelo uso ruidoso dos elementos e batidas sempre inexatas. São retalhos instrumentais que destacam a interferência criativa de Levi, como em Stars, faixa que incorpora as mesmas guitarras ruidosas testadas pela produtora no álbum Ruff Dog (2020). Nada que prejudique a entrega de músicas ainda íntimas dos antigos trabalhos, caso de He Made, canção que parece saída do repertório de Devotion.

Entretanto, são justamente os momentos de maior experimentação que destacam o trabalho de Tirzah em estúdio. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em 2 D I C U V. Enquanto os versos rompem com a melancolia explícita no restante do material (“Duas vidas, unidas esta noite / Neste lugar iluminado, nesta forma adequada / Eu me sinto tão bem“), uma massa quase intransponível de ruídos se ergue ao fundo da canção, como uma ruptura do R&B tradicional. Pouco mais de três minutos em que a artista convida o ouvinte a se perder em um ambiente de formas retorcidas, quebras e sobreposições.

Passada a curtinha 6 Phrazes, canção que partilha dos mesmos pianos soturnos de Today, Nightmare encaminha o registro para o fechamento. Assim como em 2 D I C U V, o destaque acaba ficando por conta da base ruidosa que cresce ao fundo da canção, soterrando o ouvinte. A diferença está na forma como a cantora contrasta essa estrutura invasiva dos arranjos com a maciez da própria voz e uso complementar dos teclados. São pequenas combinações de estilos que talvez ecoassem de maneira instável nas mãos de outros artistas, mas que se adaptam perfeitamente ao estranho universo criativo proposto por Tirzah.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.