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Crítica

Tulipa Ruiz

: "Efêmera (Remix)"

Ano: 2022

Selo: Brocal

Gênero: Pop, MPB, Eletrônica

Para quem gosta de: Céu e Karina Buhr

Ouça: Às Vezes e Pontual

7.5
7.5

Tulipa Ruiz: “Efêmera (Remix)”

Ano: 2022

Selo: Brocal

Gênero: Pop, MPB, Eletrônica

Para quem gosta de: Céu e Karina Buhr

Ouça: Às Vezes e Pontual

/ Por: Cleber Facchi 02/09/2022

Remixar um trabalho inteiro está longe de parecer uma tarefa simples. Porém, quando temos em mãos uma obra como Efêmera (2010), bem sucedida estreia de Tulipa Ruiz, esse exercício criativo fica ainda mais complexo. Afinal, como mexer em um repertório tão delicado sem que ele pareça descaracterizado? E não estamos falando de um registro ainda recente, fresco, mas de um álbum que durante mais uma década abasteceu parte expressiva das apresentações ao vivo da cantora e compositora santista. Felizmente, a autora de músicas como Só Sei Dançar Com Você e Do Amor parece ter se saído bem nessa empreitada.

Inicialmente pensado para celebrar o aniversário de dez anos de lançamento do registro, porém, adiado por conta do avanço da pandemia de Covid-19, o repertório de remixes de Efêmera (2022, Brocal) chega agora em um delicado envelopamento estético. São as mesmas 11 composições do álbum original, mas que ganham novo tratamento nas mãos de um time seleto de colaboradores. Canções que atravessam as pistas, utilizam de abordagens pouco usuais e possibilitam momentos de maior experimentação, mas que em nenhum momento pervertem a essência criativa que tanto caracteriza o trabalho da cantora paulista.

Parte desse resultado vem de um esforço involuntário de cada convidado em preservar o que talvez seja o principal componente criativo do registro: a voz de Tulipa. Diferente de outros trabalhos do gênero, em essência marcados pela fragmentação dos elementos, prevalece na presente coletânea uma clareza das informações e das letras originais. E isso fica bastante evidente na introdutória faixa-título, parceria entre Stephane San Juan e Laurent Griffon que potencializa o acabamento eletrônico dado ao material, porém, destaca a completa limpidez dos vocais, como uma extensão natural do som explorado há uma década.

Entretanto, muito se engana quem pensa que esse senso de preservação da obra original prejudica o rendimento da coletânea. Logo nos minutos iniciais, a sempre inventiva Mariá Portugal tensiona os limites do álbum em uma combinação de batidas, fragmentos sintéticos e ruídos que transportam a reducionista Pontual para um novo território criativo. O mesmo resultado, porém, partindo de uma abordagem ainda mais inventiva, volta a se repetir minutos à frente, na imprevisível Sushi. Com produção de Malka Julieta, nome conhecido da cena eletrônica paulistana, a canção parece perverter qualquer traço de conforto.

Mais do que mexer nas estruturas de Efêmera, parte expressiva das composições destaca o uso das vozes e pequenas interferências líricas assumidas pelos próprios convidados. É o caso de Thalma de Freitas, na delicada releitura de Do Amor, e Russo Passapusso, no remix do BaianaSystem para Só Sei Dançar Com Você. Nada que se compare ao material apresentado em A Ordem das Árvores. Com produção de Gustavo Ruiz, irmão da cantora e parceiro de criação no disco original, a faixa ganha ainda mais destaque com a participação da rapper Tássia Reis, dona das rimas complementares que sutilmente invadem a canção.

Acompanhado de um álbum visual dirigido por Ohana Ribeiro e filmado na Casa Modernista, em São Paulo, o projeto marca o fechamento de um ciclo e a passagem para uma nova fase na carreira de cantora, prestes a lançar o quarto registro de inéditas da carreira. Entre composições dançantes, como o remix da Brabo para Às Vezes, e momentos de evidente delírio, marca do trabalho de Kassin em Pedrinho, Tulipa costura passado e presente em uma combinação de ideias que preserva a própria identidade criativa e a essência da obra original, porém, utiliza de novas possibilidades, ritmos e direções sempre inesperadas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.