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Crítica

Vitor Milagres

: "Vontade de Beleza"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, MPB, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Dadá Joãozinho e Bebé

Ouça: Deixo Ele Jogar, Firmamento e Presença

7.8
7.8

Vitor Milagres: “Vontade de Beleza”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, MPB, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Dadá Joãozinho e Bebé

Ouça: Deixo Ele Jogar, Firmamento e Presença

/ Por: Cleber Facchi 08/08/2024

Se você já teve qualquer contato com o trabalho do Rosabege ou mesmo as criações de cada integrante em carreira solo, como tttigo e Dadá Joãozinho, sabe que os membros da banda original da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, costumam jogar com regras próprias e seguem um caminho nada linear. Dessa forma, ao mergulhar no repertório de Vontade de Beleza (2024, Independente), primeiro registro autoral do músico Vitor Milagres, esteja aberto a ser confrontado por estruturas, sonoridades, temas e formas pouco usuais.

A exemplo do que testou Dadá Joãozinho no ainda recente Tds Bem Global (2023), Vontade de Beleza é um trabalho que parte da intensa relação do artista com a música brasileira e o repertório de veteranos como Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, contudo muda de direção e passa a explorar um território marcado pelo uso de processamentos e experimentações com a produção eletrônica. São incontáveis texturas, ruídos sintéticos e quebras instrumentais que concedem ao material uma sensação de obra viva, em permanente expansão.

Entretanto, assim como acontece com o antigo companheiro de banda, muitas das ideias apresentadas ao longo do registro ecoam de maneira incompleta, como esboços ou peças em formação. Exemplo disso fica bastante evidente na curtinha iPhone pra Camuflar, música que utiliza de conceitos interessantes, porém se encerra tão rápido quanto se inicia, gerando uma sensação de vazio que se repete em outros momentos ao longo do material, como em Bebê Virtual, canção que soa como um samba prematuro do Mundo Livre S/A.

Não por acaso, sobrevive nos momentos em que Milagres concede tempo ao tempo e organiza melhor suas ideias a passagem para algumas das canções mais emblemáticas do trabalho. É o caso de Deixo Ele Jogar. São pouco mais de quatro minutos em que o artista convida o ouvinte a se perder em um labirinto de sons e sensações que ainda culmina na apresentação da transcendental Firmamento, essa um pouco mais curta, porém, intimamente conectada aos temas psicodélicos e delírios sonoros da composição que a antecede.

São justamente esses pequenos cruzamentos entre uma canção e outra que tornam o processo de escuta do material tão fascinante. É como se cada composição servisse de preparativo para a música seguinte, sendo muito difícil até analisar as músicas como peças avulsas. Cada mínimo fragmento é parte do todo. Ainda assim, notáveis são os destaques ao longo do trabalho, como em Presença, faixa que segue a trilha plural do restante do registro e ainda se completa pela participação de Ana Frango Elétrico e Vovô Bebê.

Mesmo quando assume parte expressiva dos instrumentos e produção do material, Milagres em nenhum momento diminui o capricho e riqueza de detalhes que orienta a formação do disco. A própria sequência de abertura do trabalho, formada por Um Barato e Glória, funciona como uma boa representação desse resultado, antecipando parte do colorido atravessamento de informações que orienta o restante da obra. Um vasto conjunto de ideias que vai da multiplicidade explícita na imagem de capa aos arranjos e vozes.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.