Image
Crítica

Waxahatchee

: "Tigers Blood"

Ano: 2024

Selo: Anti-

Gênero: Rock, Alt. Country

Para quem gosta de: Jess Williamson e Jenny Lewis

Ouça: Right Back to It, 365 e Bored

8.4
8.4

Waxahatchee: “Tigers Blood”

Ano: 2024

Selo: Anti-

Gênero: Rock, Alt. Country

Para quem gosta de: Jess Williamson e Jenny Lewis

Ouça: Right Back to It, 365 e Bored

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2024

Katie Crutchfield é um desses raros casos de uma compositora que marcou um período de tempo bastante específico com Cerulean Salt (2013), primeiro lançamento de destaque como Waxahatchee, passou por um lento processo de transformação que envolve registros como Ivy Tripp (2015) e Out in the Storm (2017), até ser reapresentada à uma parcela ainda maior do público com a chegada de Saint Cloud (2020). É como se diferentes vidas e sempre contrastantes propostas criativas habitassem o interior de uma mesma pessoa.

Não por acaso, ao mergulharmos nas canções de Tigers Blood (2024, Anti-), sexto e mais recente álbum de estúdio de Waxahatchee, todos esses componentes acumulados ao longo da última década de carreira se projetam com a mesma intensidade. É como um resumo involuntário de tudo aquilo que define a obra de Crutchfield até aqui. Um misto de passado e presente que invariavelmente esbarra em pequenas repetições estilísticas, porém, estabelece na construção dos versos um necessário elemento de maior transformação.

Eu deixo minha mente correr solta / Não sei por que faço isso / Mas você apenas se acomoda / Como uma música sem fim“, canta em Right Back To It, criação em que perverte as habituais reflexões sobre o amor romântico, base dos antigos trabalhos, para tratar sobre a necessidade de aproveitar o momento e deixar que as coisas simplesmente fluam com naturalidade. Composições livres de possíveis idealizações, como um reflexo do próprio processo de gravação do material, descrito como bastante tranquilo por Crutchfield.

Claro que essa maior leveza do processo de criação do trabalho, efeito direto da maior compreensão das dinâmicas entre Crutchfield e o produtor Brad Cook, com quem havia colaborado no álbum anterior, não diminui o peso das composições. Exemplo disso fica bastante evidente na forte carga emocional de 365, música de base econômica, mas que cresce substancialmente na construção dos versos. “E eu sou fraca demais para deixar você se afogar / Então quando você mata, eu mato / Quando você sente, eu sinto“, canta.

Vem justamente dessa capacidade da artista em equilibrar momentos de maior vulnerabilidade com atos de evidente libertação sentimental a grande força de Tigers Blood. Diferente dos trabalhos anteriores, em que havia uma linha temática orientando parte expressiva dos versos, Crutchfield, pela primeira vez, parece livre para brincar com as possibilidades dentro de estúdio. Instantes em que a compositora vai da fluidez dos arranjos, batidas e vozes em Bored para o doce reducionismo de músicas como Lone Star Lake.

Parte desse resultado vem do esforço da musicista em estreitar laços com novos parceiros criativos dentro de estúdio. Ainda que Crutchfield e Cook assumam o controle do material, nomes como MJ Lenderman e Spencer Tweedy surgem ao longo do registro, levando o repertório de Tigers Blood para outras direções. São canções que estabelecem laços emocionais, poéticos e instrumentais com os antigos trabalhos da cantora, mas que em nenhum momento fazem disso o estímulo para uma obra minimamente acomodada.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.