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Crítica

Whatever The Weather

: "Whatever The Weather"

Ano: 2022

Selo: Ghostly International

Gênero: Eletrônica, IDM

Para quem gosta de: Four Tet e Aphex Twin

Ouça: 17ºC e 30°C

7.9
7.9

Whatever The Weather: “Whatever the Weather”

Ano: 2022

Selo: Ghostly International

Gênero: Eletrônica, IDM

Para quem gosta de: Four Tet e Aphex Twin

Ouça: 17ºC e 30°C

/ Por: Cleber Facchi 26/04/2022

Em junho do último ano, Loraine James deu vida a um de seus registros mais complexos, Reflection (2021). Marcado pela completa imprevisibilidade dos elementos, o trabalho transita por entre estilos em uma delirante combinação de ritmos, texturas eletrônicas, fragmentos de vozes e quebras que potencializam tudo aquilo que a artista inglesa vinha experimentando ao longo da última década. É como um imenso labirinto sensorial que muda de direção a todo instante, jogando de maneira torta com a interpretação do público e possibilitando à produtora londrina a chance de testar os próprios limites dentro de estúdio.

Curioso perceber nas canções de Whatever The Weather (2022, Ghostly International), primeiro disco da identidade paralela adotada por James, a passagem para um território criativo completamente distinto. Ainda que preserve a versatilidade e riqueza de detalhes que parece típica das criações assinadas pela produtora, sobrevive no caráter atmosférico da obra um precioso exercício de ruptura estética e busca por novas possibilidades. Composições que utilizam da variação de temperatura para aquecer ou mesmo congelar as batidas, proposta que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do trabalho.

E esses contrastes, quebras e pequenas variações de temperatura ficam bastante evidentes logo na sequência de abertura do trabalho. De um lado, a ensolarada 25ºC, música que se espalha em meio a sintetizadores vespertinos e vozes etéreas, ambientando o ouvinte ao registro; no outro, a congelante 0ºC, composição que destaca a frieza das batidas e encaixes quase matemáticos, proposta que faz lembrar das criações de veteranos como Aphex Twin e Boards of Canada. Instantes em que James vai de um canto a outro sem necessariamente perder a consistência da própria obra e forte aproximação entre as faixas.

O mais interessante talvez seja perceber como James utiliza desses dois extremos da obra como estímulo para a formação de músicas que lidam justamente com essa dualidade. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida 17ºC. Enquanto a base da canção, sempre detalhista, ganha forma em meio a ambientações acalentadas, batidas secas rompem a calmaria de forma a tensionar a experiência do ouvinte. A própria 14ºC, apresentada minutos antes, utiliza de uma abordagem bastante similar, porém, substituindo a fluidez das batidas pelo uso destacado dos pianos, como uma fuga do restante do álbum.

Dentro desse cenário de formas inexatas e diferentes costuras rítmicas, James aproveita ainda para aportar em territórios pouco explorados dentro da própria obra. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em 30ºC, música em que destaca o uso das vozes e invade o mesmo ambiente criativo de artistas como Tirzah e Jessy Lanza, com quem colaborou há poucos meses em Seven 55. Surgem ainda preciosidades como 4ºC, composição em que segue de onde a artista inglesa parou Reflection, passa pelas reverberações etéreas do presente disco e transporta o ouvinte para um universo de novas possibilidades.

O problema é que entre uma canção e outra de maior destaque, a artista se perde em meio a criações puramente atmosféricas que pouco contribuem para o desenvolvimento do álbum. São faixas como 10ºC e 6ºC que, embora dotadas do mesmo refinamento estético, estendem a duração do trabalho para além do necessário, repetindo fórmulas e conceitos previamente detalhados pela produtora. Ainda assim, ao utilizar da forte aproximação entre as músicas e incorporar um conceito central ao disco, James garante ao público um repertório talvez mais consistente e tão provocativo quanto o material entregue em Reflection.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.