Ano: 2023
Selo: Fat Possum
Gênero: Indie, Dream Pop, Lo-Fi
Para quem gosta de: Beach House e Frankie Rose
Ouça: Idaho Alien, Mercury e Prizefighter
Ano: 2023
Selo: Fat Possum
Gênero: Indie, Dream Pop, Lo-Fi
Para quem gosta de: Beach House e Frankie Rose
Ouça: Idaho Alien, Mercury e Prizefighter
Heaven Is a Junkyard (2023, Fat Possum) é um delicado exercício de regresso. Primeiro álbum de inéditas de Trevor Powers como Youth Lagoon desde o fim das atividades da banda, há sete anos, o sucessor de Savage Hills Ballroom (2015) não apenas cumpre a função de reapresentar o som do cantor e compositor norte-americano, como traz de volta uma série de componentes originalmente testados no início da década passada, quando o músico de Boise, Idaho, foi revelado ao público com The Year of Hibernation (2011). São canções marcadas pelo reducionismo dos elementos, mas que ocultam um universo de pequenos detalhes.
Música de abertura do disco, Rabbit combina parte desses elementos de maneira tímida, porém, bastante efetiva. São delicadas camadas de sintetizadores, batidas sempre calculadas e pianos minimalistas que se completam pelo uso retorcido das vozes. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante na criação seguinte, Idaho Alien, composição que funciona como um passeio pelas memórias e sentimentos mais profundos do artista, reforçando a sensação de deslocamento e fino toque de melancolia que tem sido explorado pelo cantor desde os primeiros registros gerados no isolamento do próprio quarto.
A diferença em relação aos antigos trabalhos, por vezes maquiados pelo uso excessivo de metáforas, está na forma como Powers utiliza de uma abordagem quase expositiva, resgatando recordações empoeiradas e sentimentos que pareciam sedimentados no fundo da própria mente. Exemplo disso pode ser percebido em Prizefighter, música em que aponta com delicadeza para o passado, canta sobre a relação com os irmãos durante a infância e convida o ouvinte a flutuar em uma nuvem de sons e sensações que fazem lembrar da mesma atmosfera acolhedora que marca o repertório apresentado em The Year of Hibernation.
Todo esse cuidado no processo de construção do trabalho resulta na formação de um repertório que parece pensado para ser absorvido aos poucos, sem pressa. É como se cada componente, mesmo o mais discreto, contribuísse diretamente para o fortalecimento da obra. Em Trapeze Artist, são os coros de vozes e ambientações sutis que se revelam ao público em pequenas doses. Na derradeira Helicopter Toy, são pianos cíclicos que fazem lembrar das criações de Steve Reich. Já em Lux Radio Theatre, única canção instrumental do disco, são as captações de campo, ruídos e texturas que concedem beleza ao material.
É evidente que tamanho esmero no processo de criação do material não interfere na produção de faixas capazes de dialogar com o ouvinte logo em uma primeira audição. Composição que mais se aproxima do repertório entregue em Wondrous Bughouse (2013), Mercury talvez seja a melhor representação desse resultado. Do tratamento dado aos arranjos e sintetizadores, passando pela forma como Trevor projeta a própria voz, difícil não se deixar conduzir pela jornada emocional proposta pelo artista. E ela não é a única. De Deep Red Sea a Little Devil from the Country, sobram momentos de grandeza em Heaven Is a Junkyard.
Vem dessa capacidade de Powers em preservar traços dos antigos trabalhos e tensionar os limites da própria obra a força de Heaven Is a Junkyard. Enquanto os versos destacam o aspecto contemplativo do músico, bases cuidadosamente trabalhadas em estúdio não apenas envolvem, como potencializam os temas incorporados dentro de cada canção. Um precioso exercício criativo que passa pelos esboços apresentados pelo artista em carreira solo, vide o material entregue em Mulberry Violence (2018) e Capricorn (2020), mas que alcança novo e delicado tratamento ao assumir a identidade de Youth Lagoon.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.