Ano: 2025
Selo: Sony Music
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Zé Ibarra e Dora Morelenbaum
Ouça: Salvador, Máquina do Rio e Boas Novas
Ano: 2025
Selo: Sony Music
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Zé Ibarra e Dora Morelenbaum
Ouça: Salvador, Máquina do Rio e Boas Novas
Salvo exceções, como ao lado de Gal Costa, no álbum Nenhuma Dor (2021), ou Baco Exu do Blues, no ainda recente Hasos (2025), a última vez que ouvimos Zeca Veloso com maior destaque foi justamente no disco em que fomos introduzidos ao músico, o registro ao vivo Ofertório (2017). Gravado em conjunto com o pai, Caetano Veloso, e os irmãos, Moreno e Tom, o trabalho serviu não apenas para apresentar o artista de voz suave, como aponta caminhos para o que encontramos no repertório de Boas Novas (2025, Sony Music).
Não por acaso, ao inaugurar o disco com Salvador, Zeca volta a se encontrar com os membros da própria família em uma composição que emana baianidade e evoca as criações do pai, mas em nenhum momento oculta a própria identidade. Evangélico devoto, o artista carioca salpica referências religiosas durante toda a execução do trabalho, porém livre do discurso panfletário. São inserções sutis, direcionamento reforçado logo na canção de abertura, mas que ganha ainda mais destaque na faixa-título da obra. Delicada, a cantiga que espelha o nascimento de Jesus também acena para Boas Vindas, música que Caetano compôs para o álbum Circuladô (1991) enquanto esperava pela gestação do filho, na época, o primeiro com Paula Lavigne.
Essa mesma religiosidade fica ainda mais evidente em Talvez Menor, frágil canção de curta duração, mas que se ergue como uma das mais grandiosas e tocantes do disco. É como um respiro breve que antecede a chegada de Desenho de Animação, faixa que destaca o lirismo político de Zeca, ainda que comedido, com o compositor celebrando a cultura brasileira e a produção nacional frente ao domínio de países estrangeiros.
Com a chegada de Carolina, a voz doce, sempre trabalhada em falsetes, dá lugar ao lirismo romântico de Zeca, que agora se aventura em versos bilíngues. Já Máquina do Rio, o artista rompe a suavidade explícita nos minutos iniciais do registro para mergulhar em um brazilian boogie que evoca nomes como Robson Jorge e Lincoln Olivetti. Uma composição talvez deslocada, mas de acabamento primoroso, destacando a produção caprichada que o cantor carioca assina em conjunto com músicos como Lucca Noacco e Kassin.
Passado esse momento de maior agitação, Zeca volta a desacelerar em Tua Voz, faixa de avanço lento, mas que se engrandece pelos arranjos de Jaques Morelenbaum. Minutos à frente, é a vez de Dora Morelenbaum assumir parte dos versos que destacam o romantismo do músico que afirma: “Amor é sacrifício”. Nada que prepare o ouvinte para O Sal Desse Chão, um samba em parceria com Xande de Pilares que, assim como em Máquina do Rio, evidencia o esforço do artista em percorrer outros caminhos no decorrer do trabalho.
Vem justamente desse caráter exploratório o estímulo para a derradeira O Sopro do Fole. Interpretada pela tia, Maria Bethânia, no álbum Noturno (2021), a canção reaparece de forma ainda mais reducionista, com o artista se aventurando pelo cancioneiro sertanejo. Ainda que enraizada em uma estética distinta, a canção sustenta a coerência emocional da obra e reforça a versatilidade do músico. Um delicado exercício criativo que não apenas consolida o que se anuncia no título, como reafirma a potência artística do próprio Zeca.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.