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Críticas

Brockhampton

: "Saturation III"

Ano: 2017

Selo: Question Everything, Inc / Empire

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: The Internet e Odd Future

Ouça: Boogie e Bleach

7.8
7.8

Resenha: “Saturation III”, Brockhampton

Ano: 2017

Selo: Question Everything, Inc / Empire

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: The Internet e Odd Future

Ouça: Boogie e Bleach

/ Por: Cleber Facchi 21/12/2017

De todos os projetos de destaque que surgiram em 2017, o Brockhampton segue como um dos mais interessantes e inventivos. Basta uma rápida passagem pela sequência de obras produzidas pelo coletivo texano nos últimos meses para perceber o cuidado de Kevin Abstract e seus parceiros em cada composição. Um fino catálogo de versos que discute racismo, homossexualidade, drogas e criminalidade de forma sempre jovial, efeito da profunda interferência criativa de cada colaborador convidado a participar do projeto.

Terceiro e último capítulo da trilogia planejada pela “boyband” desde o início do segundo semestre, Saturation III (2017, Question Everything, Inc / Empire) talvez seja a passagem para o lado mais pop e acessível do coletivo. Uma coleção de ideias que prova de elementos do soul, funk, pop, R&B e Hip-Hop sem necessariamente buscar conforto em um gênero específico. Rimas e temas instrumentais que transportam o ouvinte para diferentes cenários a todo instante, como um contínuo desvendar da essência do Brockhampton.

Versátil, o trabalho se desdobra de forma a revelar um som anárquico e coeso na mesma proporção, como uma fusão entre a rima caótica que marca os trabalhos do Odd Future e as melodias testadas no braço paralelo no (hoje) quinteto The Internet. Composições que costuram diferentes conceitos, passeiam por décadas de referências — como o soul dos anos 1970 e o Hip-Hop da década de 1990 —, e fazem de cada música um objeto precioso, em geral, calcado no cotidiano e nas experiências sombrias de cada integrante ou colaborador que surge no decorrer do projeto.

O mais interessante talvez seja perceber como em Saturation III todos esses elementos se organizam em dois blocos específicos de composições. Na primeira metade do trabalho, um som eufórico, colorido e dançante, como uma madura continuação do material apresentado no álbum anterior. Exemplo disso está na dobradinha formada pelas inaugurais Boogie e Zipper. Versos, batidas e rimas que crescem em meio ao barulho de sirenes, samples e vozes pulsantes, conceito que se repete em todo o bloco inicial do trabalho.

Com a chegada de Bleach, sétima faixa do disco, Saturation III desacelera, revelando ao público um catálogo de novas rimas, ambientações densas e pequenas experimentações poéticas/instrumentais por parte do coletivo. Ainda que surjam exceções, caso de músicas como a pulsante Hottie, sobram composições aos moldes de Sister/Nation, Rental e Team, passagem para o lado mais sensível da obra, lembrando o mosaico de ideias que caracteriza o último álbum de Frank Ocean, Blonde (2016).

Segura continuação do material apresentado há poucos meses em Saturation II, o novo álbum do Brockhampton mostra um coletivo em pleno processo de maturação. Ao mesmo tempo em que preserva a atmosfera “caseira” das canções, típicas de uma mixtape, arranjos e bases cuidadosamente elaborados revelam o cuidado de Abstract e seus parceiros dentro de estúdio. O resultado está na construção de um registro que parece brincar com os próprios limites, garantindo o fechamento perfeito para a grande obra do grupo textano.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.