10 discos (recentes) para ouvir fazendo amor

/ Por: Cleber Facchi 14/04/2014

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A história da música está repleta de obras marcadas por gemidos, suspiros e composições pontuadas do começo ao fim pelo erotismo. Trabalhos que vão do soul de Marvin Gaye ao trip-hop do trio britânico Portishead em uma atmosfera de pura provocação e sensualidade evidente. Mas quais são os trabalhos recentes que conseguem mergulhar na mesma sonoridade? Obras que amenizam letras provocantes e arranjos lascivos em um mesmo cenário musical? Pensando nisso, a lista abaixo resgata 10 discos (recentes) para ouvir fazendo amor. São trabalhos lançados de 2010 até hoje e que cruzam as experiências do R&B, eletrônica, pop e rock em um catálogo de sons que funcionam de maneira ainda mais intrigante embaixo dos lençóis. Respire fundo, morda os lábios e prepare-se para fortes sensações.

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Darkside

Darkside
Psychic (2013, Matador/Other People)

Dos arranjos minimalistas em Space Is Only Noise (2011), aos ruídos de Don’t Break my Love (2012), tudo o que Nicolas Jaar apresentou nos últimos anos não passou de um rascunho perto do universo de Psychic. Primeiro grande trabalho do produtor norte-americano pelo Darkside, a soturna obra dança pelas experiências noturnas sem necessariamente fazer parte de uma cena específica ou parecer guiada por uma estética próxima. Acompanhado pelo multi-instrumentista Dave Harrington, responsável por toda a capa instrumental que ocupa o álbum, Jaar transforma o disco em um jogo de provocações. Um verdadeiro labirinto sensorial que casa arranjos e ruídos em um fluxo de pura hipnose. Do erotismo em Paper Trails – faixa que carrega o solo de guitarra mais sensual desde Wicked Games -, ao cruzamento de essências em Golden Arrow, cada música instalada no disco parece exercer uma função específica para a imensa tapeçaria que a dupla aos poucos desenvolve. Se os detalhes são parte importante de qualquer obra, então Psychic é um álbum feito inteiramente deles: os mais minuciosos e envolventes detalhes.

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Destroyer

Destroyer
Kaputt (2011, Merge)

Dan Bejar sempre tratou o Destroyer como um projeto de pequenas surpresas. Em um sentido de oposição ao som festivo lançado por sua outra banda, o coletivo These New Pornographers, cada trabalho desenvolvido paralelamente pelo músico canadense fez dos “momentos” um ponto de conversa com o ouvinte. Não por acaso sua maior obra, Kaputt, é uma representação exata desse resultado. Promovido pelos momentos, o trabalho ameniza vozes e arranjos em uma tonalidade que jamais ultrapassa prováveis limites. Músicas como Blue Eyes e Poor in Love que fundem as experiências do Jazz, Soft Rock e o pop dos anos 1980 em um espaço de explícita imersão – tanto para o ouvinte, como para o autor da obra. Ainda que as canções discorram sobre temas cotidianos e o isolamento do personagem principal – o próprio Bejar -, o uso de suspiros femininos e a precisão do trompete (em um romantismo típico de Miles Davis) fazem do álbum um objeto de recolhimento e ao mesmo tempo provocação. Como os versos da faixa-título anunciam, Kaputt é um disco sobre a noite, e tudo que se esconde (ou se revela) dentro dela.

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How To Dress Well

How To Dress Well
Love Remain (2010, Lefse/TriAngle)

O ambiente claustrofóbico lançado por Tom Krell em Love Remain, estreia do How To Dress Well pode até levar tempo a convencer o ouvinte, porém, uma vez dentro dele é difícil querer escapar. Desenvolvido a partir de colagens artesanais de sons, o produtor vai do Dream Pop da década de 1980 ao R&B dos anos 1990 em um engenho tão estranho quanto encantador. Vozes angelicais, cantos submersos e uma constante interferência ruidosa que mais parece fluir como um produtor essencialmente artesanal/Lo-Fi – resultado das captações caseiras de cada faixa do disco. Comprometendo as próprias experiências, Krell usa de cada música como uma representação de si próprio, resgatando desde relacionamentos que não deram certo, até delicadas declarações de amor. O resultado está na formação de um produto tão íntimo do espectador, quanto do próprio criador – uma espécie de matéria-prima mutável para os condimentos do trabalho.

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James Blake

James Blake
James Blake (2011, A&M/Atlas)

Enquanto os primeiros inventos de James Blake foram corroídos pelo pós-Dubstep e todas as marcas da nova eletrônica britânica, ao lançar o primeiro álbum em carreira solo, o músico encontrou todo um novo catálogo de possibilidades. Com um pé no R&B e outro atolado nos experimentos eletrônicos, o bem recebido debut só não cai no hermetismo completo por conta de um importante mecanismo: o teor intimista das faixas. Das inaugurais Unluck e Wilhelms Scream, ao fechamento do trabalho, cada instante do disco se revela como uma experiência tão sintética (por conta dos sons), quanto humana (resultado das faixas de versos tristes e  hipnóticos). São composições movidas por pianos (Limit To Your Love), bases atmosféricas (To Care) e manipulações eletrônicas que fazem de Blake um personagem quase caricato dentro do universo que vem desenvolvendo. Pequenas engrenagens que se movimentam em um ambiente sombrio e encantador.

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James Blake

Jamie Woon
Mirrorwriting (2011, Polydor)

Jamie Woon já havia brincado com uma série de composições avulsas e pequenas criações marcadas pela sensualidade, porém, nunca de forma tão autêntica quanto em Mirrorwriting. Obra de estreia do produtor inglês, o álbum dança por experiências que vão do Trip-Hop ao novo R&B, traço explícito nas vocalizações melódicas e interferências sampleadas que definem o disco. Dissolvido em pequenos atos, o disco usa logo da inaugural Night Air como uma base para o restante da obra. Batidas minimalistas, sintetizadores pontuais e a voz sempre límpida, elementos que tecem casos de (des)amor em uma noite de solidão. Com faixas como Street, Echoes e a voluptuosa Lady Luck, Woon orquestra as impressões do ouvinte com parcimônia, entalhando desde faixas que se movimentam como um ato sexual lento (Shoulda), até criações que explodem durante todo o tempo (TMRW). Um álbum que vale como uma passagem para a vida noturna, ou um mergulho embaixo do edredom.

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Miguel

Miguel
Kaleidoscope Dream (2012, RCA)

Enquanto All I Want Is You (2010) fez de Miguel apenas “mais um” dentro do R&B/Hip-Hop estadunidense, Kaleidoscope Dream, lançado dois anos mais tarde, deu ao cantor californiano um objeto de evidente distinção. Ainda que as vocalizações arrastadas e versos densos se movimentem como um típico produto da cena em desenvolvimento, a carga particular de referências posicionam o rapper em um lugar quase isolado. De menções aos Beach Boys, em Don’t Look Back, aos arranjos que esbarram na obra de Michael Jackson por todo o trabalho, cada faixa do disco usa das confissões do autor como uma ferramenta para hipnotizar o ouvinte, algo que a melancólica Do You… (“Você gosta de drogas? Você já se sentiu sozinho? Você ainda acredita no amor?“) traduz como um funcional exemplo. Cravejado de hits e batidas letárgicas, o segundo álbum de Miguel funciona em uma medida de tempo própria, equilibrando arranjos de cordas e colagens típicas da música pop em um ambiente de forte libido.

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Rhye

Rhye
Woman (2013, Republic/Innovative Leisure)

Woman talvez um dos registros mais curiosos apresentados recentemente. Os vocais andróginos, o clima mezzo erótico, mezzo melancólico e a comunhão sutil dos arranjos puxam o ouvinte para um verdadeiro labirinto de experiências. Primeira obra em conjunto entre Mike Milosh e Robin Hannibal, o álbum encontra na experiência prévia de cada colaborador um natural senso de direção para a construção das faixas. São passagem ponderadas pelo Trip-Hop dos anos 1990, o erotismo tímido da Soul Music lançada na década de 1970, até uma colisão de elementos jazzísticos que jamais ultrapassam os limites abrandados do trabalho. Trilha sonora para uma noite de amor, o registro de estreia do Rhye consegue ir além dos lençóis e dos corpos entrelaçados dos casais, se manifestando como um catálogo de experiências pontuadas em alguns momentos pelo medo e o isolamento. Uma tapeçaria musical que parece planejada para a noite e os diferentes personagens que dentro dela se escondem

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The Weeknd

The Weeknd
House Of Balloons (2011, XO)

Ato inicial da trilogia que ocuparia 2011 com drogas, desilusões e sexo, House Of Balloons é a plena representação do território sombrio/provocante lançado por Abel Tesfaye. Amarrando as pontas soltas entre o R&B da década de 1990 e a nova safra de artistas que viriam logo em sequência, a estreia do produtor canadense é uma obra que brinca com as experiências do ouvinte durante todo o tempo. Enquanto as batidas, lesionadas pelo experimento e emanação caseira das bases, fragmentam um som erótico, lascivo, cada verso assinado pelo artista reverbera melancolia. São canções embriagadas, como What You Need, The Party & The After Party e Wicked Games, músicas que parecem descrever uma noite de aflição ou os minutos que antecipam o ato sexual. Embaixo dos lençóis, o trabalho segue propositalmente lento, destilando solos sampleados (The Morning) e ruídos melódicos (Twenty Eight) que aos poucos invadem a mente do ouvinte.

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The XX

The XX
Coexist (2012, Young Turks)

Em XX, álbum de estreia lançado em 2009, o The XX já havia provado da capacidade em produzir composições que mesmo melancólicas, se acomodam em um espaço instrumental tomado pela sensualidade. Com a estreia de Coexist, todas essas experiências se ampliaram visivelmente. Dos atos curtos das guitarras ao esforço pontuado das batidas, cada canção se desenvolve em uma medida tímida, mas sempre provocante ao espectador. Enquanto Jamie XX trata da produção com parcimônia, absorvendo cada faixa isoladamente em um plano homogêneo, as vozes em dueto de Romy Madley Croft e Oliver Sim reforçam o sentimento de confissão. São pequenas declarações de amor amarguradas, suspiros e carícias que se movimentam com a mesma timidez que as melodias. Dos versos serenos de Angels (“Eles estariam/ Tão apaixonado por você quanto eu“) aos beats crescentes de Sunset, cada música se movimenta como uma mínima partícula da estrutura imensa que define a obra. Doces retalhos líricos, sonoros e sentimentais.

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Washed Out

Washed Out
Within and Without (2011, Sub Pop)

Da capa (quase) explícita aos versos temperados pela sensualidade, Within and Without, estreia de Washed Out, é uma obra de fortes sensações. Como um imenso orgasmo musicado, Ernest Greene desenvolve cada música de forma a promover pequenas explosões instrumentais ou de voz durante todo o tempo. Faixas que sobrepõe sintetizadores (Eyes Be Closed), guitarras (Amor Fati) e vozes (You and I) em uma estrutura labiríntica, arrastando lentamente o espectador. Como se uma canção servisse de estímulo para a faixa seguinte, Greene ameniza todas as impressões da obra em um imenso bloco, uma percepção de que cada ruído leva a uma nova harmonia, verso, acorde e, por fim, a obra como um todo. Diferente de outros registros fomentados pelas batidas densas e arranjos pontuais, Within and Without foca na expansão, como uma massa calorosa de sons e referências capazes de transformar o próprio ouvinte em uma fração desse cenário que se movimenta em ondas. A trilha sonora voluntária para um Soft Porn resgatado de uma fita VHS.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.