Cozinhando Discografias: Slowdive

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2017
Image

 

Aos comandos de Nick Chaplin, Rachel Goswell, Neil Halstead, Christian Savill e Simon Scott, o Slowdive, grupo original da cidade de Reading, Inglaterra, fez da curta discografia o ponto de partida para a algumas das principais canções do Shoegaze/Dream Pop. Faixas como Alison, Machine Gun, Souvlaki Space Station e outros clássicos – veja nossa lista com 10 músicas para gostar de Slowdive –, que continuam a servir de inspiração para diferentes projetos.

Principal atração do Balaclava Fest 2017, a banda se apresenta no dia 14 de maio no Cine Joia, em São Paulo. Aproveitando o evento, organizamos os três álbuns de inéditas do grupo do pior para o melhor lançamento em mais uma edição da nossa seção Cozinhando Discografias – especial que já analisou projetos como Led Zeppelin, Beach House e Mogwai. Nos comentários, conta pra gente: qual é a sua música e disco favorito do Slowdive?

_

#04. Pygmalion
(1995, Creation)

O som minimalista e leve que escapa da extensa Rutti, com mais de 10 minutos de duração, parece ser a chave para entender o trabalho do Slowdive em Pygmalion (1995). Sucessor do elogiado Soulvaki (1993), o trabalho de temas atmosféricos e intimistas mostra a busca do quinteto inglês em alcançar um som essencialmente sensível, contido. Em um intervalo de quase 50 minutos de duração, vozes ecoadas, guitarras e batidas densas parecem dançar na cabeça do ouvinte. São atos lentos, propositadamente arrastados, mas que se completam durante a construção do trabalho. Miranda se conecta com Trellisaze, a curtinha Cello serve de ponte para J’s Heaven, enquanto a psicodélica Crazy For You, segunda faixa do disco, acaba sintetizando grande parte do disco. A busca declarada por um som ainda mais complexo, experimental, como uma extensão dos temas ambientais testados pelo grupo no segundo disco. Um universo de melodias doces que serviria de estímulo para bandas como Mojave 3 e outros projetos paralelos dos integrantes.

_

#03. Just for a Day
(1990, Creation / SBK)

No final dos anos 1980, com o aparecimento de grupos como The Stone Roses, Happy Mondays e Blur, a Inglaterra passava por um novo período de transformação cultural. Parte menor, mas não menos expressiva desse cenário, o Slowdive, grupo formado em 1989 na região de Reading, passou os dois primeiros anos experimentando e provando diferentes sonoridades em estúdio. Um acúmulo de ideias que seria reforçado com o lançamento do primeiro EP, em novembro de 1990, porém, aprimorado com a chegada do álbum Just For a Day. Primeiro registro de estúdio do quinteto inglês, o trabalho de nove faixas funciona como a passagem para um mundo de sonhos e pequenos delírios instrumentais. Um som psicodélico, sujo, estímulo para a formação de músicas como Celia’s Dream e Catch the Breeze, essa última, uma das principais canções do grupo. Em 2005, durante o relançamento do álbum, grande parte dos singles e músicas lançados na coletânea Blue Day (1992), como Avalyn I e Shine, seriam incorporadas ao trabalho, reforçando a grandiosidade da obra.

_

#02. Slowdive
(2017, Dead Oceans)

Poucos são os artistas que conseguem passar tanto tempo longe do público e conseguem voltar com um trabalho grandioso. Ainda mais raros são aqueles que retornam com um novo clássico em mãos. É o caso do Slowdive com o quarto álbum da carreia. Primeiro registro de inéditas da banda em 22 anos, o autointitulado registro de oito faixas traz – nove na versão japonesa –, concentra todos os elementos que fizeram do grupo britânico um dos mais influentes no começo da década de 1990. Da abertura do disco, com a psicodélica Slomo, passando pelas guitarras de Star Roving, a ambientação onírica de Sugar For The Pill, até alcançar a extensa Falling Ashes, com pouco mais de oito minutos de duração, cada fragmento do trabalho parece tratado com verdadeiro esmero por parte dos integrantes. Versos delirantes, labirintos instrumentais e todo um cuidado na forma como cada instrumento assume uma posição de destaque no decorrer do trabalho. Da imagem de capa do disco, uma cena do filme Heaven and Earth Magic (1962), experimento audiovisual produzido pelo cineasta norte-americano Harry Smith, até o último acorde, uma obra marcada pela precisão de cada elemento.

_

#01. Souvlaki
(1993, Creation)

Em 1992, quando os integrantes do Slowdive apresentaram as primeiras demos de Souvlaki à Creation Records, o experimentalismo proposto pela banda deixou o presidente do selo, Alan McGee, bastante incomodado. Todavia, a mudança de direção e declarada influência do experimentalismo incorporado em Low, de David Bowie, acabou aproximando o grupo do veterano Brian Eno, um dos responsáveis pela produção do clássico registro de 1977. Convidado por McGee a produzir o álbum, Eno acabou colaborando apenas em duas faixas – Sing e Here She Comes –, parceria que acabou servindo de estímulo para todo o universo criado pela banda no segundo álbum de inéditas. Entre melodias enevoadas que dialogam com o Dub – vide Souvlaki Space Station –, diálogos com a obra do Joy Division e referências ao trabalho de Aphex Twin, cada uma das dez faixas do registro reflete o esmero e forte relação da banda dentro de estúdio.

Interessante perceber que Rachel Goswell e Neil Halstead, namorados até a produção de Just for a Day (1990), haviam acabado de se separar, ruptura que acabou servindo de estímulo para grande parte dos versos em Soulvaki. “Vejo você andando / E eu sei que ela é minha amiga / Novamente”, canta o ex-casal em Machine Gun, um reflexo da poesia angustiada que orienta grande parte do trabalho. Casa de algumas das principais composições da banda, como Alison e Dagger, Soulvaki teria um peso ainda maior ao longo dos anos. Junto de Nowhere (1990) do Ride e Loveless (1991) do My Bloody Valentine, uma das peças mais importantes do Shoegaze/Dream Pop.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.