Cozinhando Discografias: Led Zeppelin

/ Por: Cleber Facchi 05/01/2017
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Poucas grupos sintetizam com tamanha naturalidade o significado da palavra “Rock ‘n’ Roll” quanto os britânicos do Led Zeppelin. Donos de uma rica sequência de obras que abasteceram o gênero entre o final dos anos 1960 e grande parte da década de 1970, a banda formada em 1968 na cidade de Londres acumula uma verdadeira coleção de clássicos.

Músicas como Stairway to Heaven, Immigrant Song, Whole Lotta Love, Communication Breakdown e outras tantas composições que continuam a servir de inspiração para o trabalho de diferentes artistas, além, claro, de trilha sonora para gerações completamente distintas de ouvintes. Em mais uma edição da seção Cozinhando Discografias, a difícil tarefa de organizar toda a discografia do quarteto formado por Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham.

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#09. Coda
(1982, Swan Song Records)

Mesmo com boas apresentações ao vivo, no final da década de 1970 era explícito o desgaste de cada um dos integrantes do Led Zeppelin. Turnês extensas, abusos com drogas e a morte de entes queridos – como o filho de Robert Plant, em 1977 –, pareciam encaminhar a banda para um possível encerramento das atividades. Com o falecimento do baterista John Bonham, em 1980, o trio remanescente decidiu dar fim ao projeto. Entretanto, questões contratuais com a Atlantic Records obrigaram o grupo a lançar um novo álbum de inéditas. Veio em novembro de 1982 o póstumo Coda, uma coletânea com oito faixas inéditas produzidas pela banda entre 1970 e 1978. Escolhidas a dedo, as canções curiosamente revelam uma forte aproximação, mesmo concebidas em épocas completamente diferentes. No repertório, músicas como a pegajosa Ozone Baby, Darlene, We’re Gonna Groove e a melancólica I Can’t Quit You Baby. O princípio de toda a série de relançamentos do Led Zeppelin que seriam apresentados no começo da década de 1990.

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#08. In Through the Out Door
(1979, Swan Song Records)

Para o encarte de In Through the Out Door, os integrantes do Led Zeppelin decidiram investir na produção de seis capas diferentes. Diferentes ângulos de uma mesma cena. Toda essa pluralidade (ou incerteza) acaba se refletindo no processo de composição do disco. Em um sentido oposto ao trabalho lançado três anos antes, Presence, o oitavo registro de inéditas do quarteto britânico mostra um som instável, torto. Enquanto algumas das canções buscam apoio no rock clássico, caso de Hot Dog, outras como Fool In The Rain trazem de volta o diálogo da banda com o reggae, elemento originalmente testado em Houses of the Holy, de 1973. Sobram ainda músicas como a extensa Carouselambra, faixa entregue ao uso de sintetizadores, conceito também explícito na dobradinha formada por All My Love e I’m Gonna Crawl. Uma verdadeira colcha de retalhos que sintetiza o completo desgaste de cada integrante, principalmente Page, na época criativamente sufocado pelo vício em heroína.

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#07. Presence
(1976, Swan Song Records)

Durante a turnê de divulgação do duplo Physical Graffiti, em 1975, Robert Plant acabou sofrendo um grave acidente de trânsito, obrigando o grupo a cancelar todas as apresentações previstas para o final daquele ano. Em repouso, nos Estados Unidos, Plant começou a escrever uma série de novas composições, músicas que seriam completas depois de uma visita do parceiro Jimmy Page. Com o vocalista ainda em uma cadeira de rodas, a banda decidiu entrar em estúdio, completando em um espaço de apenas três semanas o processo de gravação do inédito Presence, sétimo álbum de inéditas do Led Zeppelin. Concebido em tempo recorde, o trabalho reflete essa mesma ansiedade em grande parte das canções. Da abertura do disco, com Achilles Last Stand, passando por músicas como Royal Orleans, Since I’ve Been Loving You e Candy Store Rock, a banda segue de forma acelerada, se esquivando de possíveis respiros e baladas acústicas. Para o encarte do disco, o grupo contou com o trabalho do coletivo Hipgnosis, também responsáveis pela arte de Houses of the Holy (1973) e grande parte dos registros do Pink Floyd.

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#06. Houses of the Holy
(1973, Atlantic)

O enorme sucesso em torno do quarto álbum de estúdio do Led Zeppelin fez com que a banda precisasse de um pouco mais de tempo para finalizar um novo registro de inéditas. Lançado em março de 1973, depois de uma série de apresentações do quarteto em diferentes partes do globo, Houses of the Holy mostra uma profunda transformação na sonoridade produzida pela banda. Enquanto a primeira parte do trabalho mantém firme a mesma crueza e energia explorado nos dos quatro primeiros discos do quarteto, na segunda metade, o álbum se abre para o uso de pequenas experimentações e novos gêneros musicais. O som funkeado em The Crunge – uma confessa homenagem ao cantor James Brown –, reggae em D’yer Mak’er, sintetizadores cósmicos em No Quarter. Uma busca declarada por novas sonoridades e possibilidades dentro de estúdio, como um estímulo para toda a sequência de obras que o grupo viria a produzir na segunda metade dos anos 1970.

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#05. Led Zeppelin III
(1970, Atlantic)

A voz animalesca de Robert Plant, guitarras pulsantes de Jimmy Page, o jogo insano entre a bateria de John Bonham e o baixo de John Paul Jones. Bastam os primeiros minutos de Immigrant Song para que o ouvinte seja instantaneamente arrastado para dentro do terceiro álbum de estúdio do Led Zeppelin. Todavia, curioso encontrar no registro lançado em outubro de 1970 uma parcial fuga da euforia que inicialmente apresenta o disco. Entre canções explosivas, caso de Celebration Day, o quarteto britânico aproveita para provar de novas sonoridades e velhas referências. São arranjos acústicos e diálogos contidos com a música folclórica da Inglaterra, conceito explícito em grande parte do trabalho. De essência “rural”, o trabalho que ainda conta com músicas como a dolorosa Since I’ve Been Loving You foi parcialmente concebido durante um período de isolamento da banda no cenário bucólico de Bron-Yr-Aur, uma casa de campo do século XVIII localizado na região de Gwynedd, no País de Gales. Experimentações sutis que ainda serviriam de passagem para a obra-prima da banda: Led Zeppelin IV (1971).

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#04. Led Zeppelin
(1969, Atlantic)

Em 1968, Jimmy Page teve de recrutar um time de novos colaboradores para cumprir a série de shows e todas as questões contratuais de sua antiga banda, The Yardbirds. Acompanhado pelo baixista John Paul Jones, o vocalista Robert Plant e o baterista John Bonham, Page não apenas realizou uma sequência de apresentações pela região da Escandinávia, como revelou ao público um curto repertório de composições inéditas. De volta à Inglaterra, o guitarrista decidiu seguir em parceria com os colaboradores, dando vida a um novo projeto — o Led Zeppelin. Produzido em um intervalo de apenas um mês, o primeiro registro em estúdio do quarteto mostra a força do encontro entre elementos do blues, country e rock, conceito explícito na construção de músicas como You Shook Me, Dazed and Confused e Black Mountain Side. Apesar da recepção fria por parte da imprensa, o resultado não poderia ser outro: a estreia do quarteto ocuparia uma posição de destaque nas paradas de sucesso inglesas e também nos Estados Unidos. Da icônica imagem de capa — um registro do incidente com o dirigível Hindenburg, em 1937 —, passando pelo constante diálogo entre as guitarras de Page e a voz de Plant, toda a estrutura que viria a ser explorada pelo grupo nos próximos registros ecoa com naturalidade dentro deste álbum.

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#03. Led Zeppelin II
(1969, Atlantic)

A boa repercussão em torno do primeiro álbum de estúdio, forte pressão da gravadora, além da série de apresentações pelos Estados Unidos e Europa, fez com que a produção do segundo disco do Led Zeppelin fosse completamente caótica, tumultuada. Gravado durante o intervalo dos shows do grupo, o segundo registro de inéditas do quarteto inglês é uma obra movida pela força das guitarras e a produção coesa de Page. Urgente, o álbum reflete com naturalidade a mesma energia emanada pelo grupo durante as apresentações ao vivo, fazendo de cada música uma extensão insana do mesmo material produzido poucos meses antes durante a construção do primeiro disco da banda. Produto da completa interação entre Page e Plant, o álbum revela ao público algumas das composições mais poderosas (e memoráveis) do Led Zeppelin. Faixas como a atemporal Whole Lotta Love, a pegajosa Living Loving Maid (She’s Just a Woman), além de hinos como Thank You, com suas melodias acústicas, e a densa Heartbreaker, canção escolhida para inaugurar o Lado B do disco. Da abertura ao fechamento do trabalho, uma verdadeira coleção de clássicos.

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#02. Physical Graffiti
(1975, Swan Song Records)

Se você ouvir em sequência todas as 15 composições apresentadas no duplo Physical Graffiti vai perceber uma consistência única dentro da discografia da banda. Curioso perceber que grande parte das canções foram originalmente gravadas em momentos diferentes. Black Country Woman, The Rover e Houses of the Holy, por exemplo, nasceram durante as sessões que resultaram no quinto álbum de estúdio do quarteto. Já a acústica Bron-Yr-Aur, oitava faixa do disco, é ainda mais antiga – data de 1970, durante o processo de composição de Led Zeppelin III. O restante da obra, incluindo as ótimas Kashmir e Trampled Under Foot, dois dos principais sucessos da banda, só foram finalizadas em 1975. Mesmo denso e maduro, Physical Graffiti reflete a mesma jovialidade que marca os dois primeiros álbuns da banda. Ainda que o quarteto dialogue de forma explícita com o folk, blues e country durante toda a construção do disco, sobrevive na versatilidade e peso das guitarras o grande charme da trabalho. Recebido de forma positiva pelo público e crítica, o registro ainda marcou uma nova fase dentro da carreira do grupo, sendo o primeiro trabalho lançado pelo selo Swan Song Records, criado pelos próprios integrantes do Led Zeppelin.

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#01. Led Zeppelin IV
(1971, Atlantic)

Você pode não ser um grande conhecedor do Led Zeppelin, tampouco ter se dedicado a ouvir a discografia da banda, mas certamente já foi impactado por grande parte das canções produzidas para o quarto álbum de estúdio do quarteto. Do ritmo quente, vozes e guitarras frenéticas que escapam de Rock and Roll, uma das canções mais intensas do grupo, passando pelo som transcendental que cresce na cósmica Stairway To Heaven, grande parte do álbum foi exaustivamente reproduzido e, posteriormente reciclado por diferentes artistas e produtores.

Um dos registros mais vendidos da história do rock, o trabalho de oito faixas produzido entre dezembro de 1970 e março de 1971 nasce como uma resposta de Jimmy Page às críticas sofridas durante o lançamento do terceiro álbum da banda, um ano antes. Entre fragmentos da música Celta, uso de temas ocultistas, a simbologia no nome de cada integrante e referências declaradas ao livro O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, Page e os parceiros de bandas reforçam o aspecto “místico” em torno do grupo. São arranjos complexos, essencialmente detalhistas, que se espalham em meio a versos tão intimistas quanto subjetivos, repletos de significados ocultos e fragmentos serem desvendados pelo público. Uma sequência de acertos que tem início em Black Dog, passa por The Battle Of Evermore, Going To California e descansa apenas no último acorde de When The Levee Breaks.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.