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Crítica

Beth Orton

: "Weather Alive"

Ano: 2022

Selo: Partisan

Gênero: Art Pop, Soft Rock

Para quem gosta de: Tracey Thorn e Aimee Man

Ouça: Weather Alive e Friday Night

8.5
8.5

Beth Orton: “Weather Alive”

Ano: 2022

Selo: Partisan

Gênero: Art Pop, Soft Rock

Para quem gosta de: Tracey Thorn e Aimee Man

Ouça: Weather Alive e Friday Night

/ Por: Cleber Facchi 28/09/2022

Embora resolvido na econômica combinação de oito composições, Weather Alive (2022, Partisan) nasce como o produto final de um lento processo de aprimoramento artístico que já dura quase três décadas. Do uso calculado da vozes ao refinamento dado aos arranjos, cada elemento do registro evidencia o domínio criativo e entrega sentimental de Beth Orton, cantora e compositora inglesa que colaborou com nomes importantes como The Chemical Brothers e William Orbit, mas que regressa agora com uma obra em que cada mínimo fragmento instrumental e poético parece pensado e executado de forma sempre minuciosa.

Sequência ao material entregue em Kidsticks (2016) e primeiro registro produzido integralmente pela artista que já trabalhou em estúdio com Ben Watt (Everything But The Girl), Jim O’Rourke e Andrew Hung (Fuck Buttons), Weather Alive concentra o que há de melhor e mais característico no som de Orton. São vozes enevoadas que se espalham em um labirinto de sensações, ritmos e sobreposições instrumentais que ora utilizam de ambientações acústicas, ora esbarram em experimentações com a música eletrônica. Canções que mais ocultam informações do que necessariamente atendem ao imediatismo do público.

Com mais de sete minutos de duração, a introdutória faixa-título funciona como uma síntese conceitual de tudo aquilo que Orton busca desenvolver ao longo da obra. Entre citações ao próprio trabalho, retalhos sentimentais e reflexões sobre a passagem do tempo, a artista inglesa convida o ouvinte a se perder em um ambiente enigmático, porém, sempre atrativo. Mesmo a base instrumental da canção, dissolvida em meio a ambientações etéreas, parece pensada de forma a capturar a atenção do ouvinte, proposta que acaba se refletindo durante toda a execução do material que cresce em uma medida própria de tempo, sem pressa.

Parte expressiva desse resultado que favorece a construção de faixas cada vez mais evasivas, por vezes fragmentadas, vem de um delicado processo de transformação pessoal vivido por Orton. Desde 2014, quando foi diagnosticada com epilepsia, a artista que passou por episódios de convulsão e lapsos de memória tem feito dessa desorientação ocasional um estímulo para o próprio trabalho. E isso se reflete na forma como pequenos atravessamentos instrumentais e líricos ecoam do princípio ao fim da obra. São momentos de maior instabilidade, curvas e quebras rítmicas que tingem com incerteza o repertório.

Nesse sentido, Weather Alive é uma obra que funciona no isolamento de suas composições, como na fluidez das guitarras e potência rítmica da já conhecida Fractals, mas que encanta quando observado em totalidade. Acompanhada por um time seleto de colaboradores, como Tom Skinner (The Smile, Sons of Kemet) e o saxofonista Alabaster dePlume, Orton espalha fragmentos de sopros, entalhes percussivos e camadas de sintetizadores que aproximam músicas conceitualmente distintas. Canções como a jazzística Lonely e Forever Young que mais parecem peças flutuantes de um imenso quebra-cabeças emocional.

Marcado pela sutileza dos elementos, como tudo aquilo que artista inglesa tem produzido desde o ressurgimento com Sugaring Season (2012), Weather Alive encanta pelo caráter atmosférico e imersivo, mas em nenhum momento deixa de estreitar a relação com o ouvinte. São canções como Friday Night, com seus versos cíclicos e sentimentos à flor da pele, que detalham uma interpretação sempre curiosa de Orton sobre a música pop. Instantes em que a cantora resgata a essência de algumas de suas principais obras, como Central Reservation (1999), porém, partindo de uma abordagem delicadamente transformada.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.