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Crítica

Bill Callahan

: "Ytilaer"

Ano: 2022

Selo: Drag City

Gênero: Rock, Folk, Alt. Country

Para quem gosta de: Lambchop e Wilco

Ouça: Natural Information e Naked Souls

8.2
8.2

Bill Callahan: “Ytilaer”

Ano: 2022

Selo: Drag City

Gênero: Rock, Folk, Alt. Country

Para quem gosta de: Lambchop e Wilco

Ouça: Natural Information e Naked Souls

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2022

O título espelhado e os versos iniciais funcionam como uma boa indicação de tudo aquilo que Bill Callahan busca desenvolver no fino repertório de Ytilaer (2022, Drag City). “E estamos saindo dos sonhos / Como estamos voltando aos sonhos“, detalha o cantor e compositor norte-americano. São composições que oscilam entre sonho e realidade, tornando incerta a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. Instantes em que o músico se aprofunda na construção de diferentes personagens, cenas e acontecimentos de forma sempre detalhista, como a passagem para um universo totalmente particular.

Sequência ao material entregue em Gold Record (2020), Ytilaer traz de volta uma série de elementos bastante característicos do músico estadunidense, como a instrumentação diminuta e uso sempre calculado das vozes, porém, segue por vias pouco usuais, rompendo com qualquer traço de conforto. Da base ruidosa que cresce ao fundo das canções, passando pelo permanente diálogo com diferentes colaboradores, cada elemento do disco parece pensado para ampliar o campo de atuação do artista, proposta que vai de encontro ao mesmo território criativo do extinto Smog, antiga banda do compositor.

A própria escolha de Natural Information como uma das primeiras composições a serem apresentadas ao público funciona como uma boa representação de tudo aquilo que Callahan busca desenvolver ao longo da obra. Pouco mais de cinco minutos em que o artista parte de uma base acústica e econômica, porém, investe na sobreposição de pequenos acréscimos a cada novo movimento. São vozes de Amy Annelle e Eve Searls, o uso complementar de metais e camadas de guitarras que fazem lembrar do detalhismo explícito em alguns dos principais trabalhos do Smog, como Knock Knock (1999) e Dongs Of Sevotion (2000).

Vem justamente desse esforço do artista em avançar criativamente o estimulo para algumas das principais composições de Ytilaer. É o caso da crescente Naked Souls. Enquanto os versos mais uma vez destacam a poesia inquietante de Callahan (“Em todo lugar que eu olho é tudo que vejo / você não pode esconder o que está dentro“), cada fragmento da canção surpreende pelo delirante cruzamento de informações e quebras ocasionais que bagunçam a experiência do ouvinte. O mesmo acontece em Bowevil, música que destaca o lirismo político e visão do compositor sobre diferentes aspectos da sociedade norte-americana.

Mesmo quando desacelera e traz de volta a essência de registros como Dream River (2013) e Shepherd in a Sheepskin Vest (2019), Callahan em nenhum momento deixa de surpreender o ouvinte. A própria faixa de abertura do álbum, First Bird, destaca o refinamento e capacidade do artista em seduzir por meio da economia dos elementos. São arranjos contidos e vozes que parecem assentar em uma medida própria de tempo. Mais do que garantir respostas imediatas, o compositor continua a investir na formação de um repertório que exige ser desvendado, minucia que se reflete até os minutos finais, em Last One at the Party.

Vindo em sequência a outros dois registros marcados pelo refinamento instrumental e lírico, entre eles o colaborativo Blind Date Party (2021), obra de versões ao lado de Bonnie “Prince” Billy, Ytilaer reafirma o evidente domínio criativo e força de Callahan durante toda a execução do material. Mesmo que muitas das composições utilizem de uma abordagem bastante característica do músico estadunidense, com suas ambientações sutis e versos semi-declamados, prevalece a capacidade do artista em estabelecer momentos de quebra e pequenas corrupções estéticas que tingem com ineditismo os rumos do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.