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Crítica

Bríi

: "Último Ancestral Comum"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Black Metal, Eletrônica

Para quem gosta de: Kaatayra e Papangu

Ouça: Viajante Universal e Ecos da Imaginação

7.6
7.6

Bríi: “Último Ancestral Comum”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Black Metal, Eletrônica

Para quem gosta de: Kaatayra e Papangu

Ouça: Viajante Universal e Ecos da Imaginação

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2023

Qual será a próxima direção a ser explorada por Caio Lemos? Essa é uma pergunta que faço a cada novo mergulho nas criações do multi-instrumentista brasiliense que utiliza das identidades de Kaatayra, Rasha e Vauruvã, mas que estabeleceu na alcunha de Bríi um de seus projetos mais inventivos e imprevisíveis. E isso fica bastante evidente com a chegada do curioso Último Ancestral Comum (2023, Independente). Mais recente trabalho de inéditas do artista, o registro de quatro faixas soa como um acumulo natural e lenta corrupção de tudo aquilo que o músico havia testado anteriormente em seus últimos lançamentos.

Embora revelado em sequência ao material entregue em Corpos Transparentes (2022), trabalho em que reflete sobre a morte e o período pandêmico, difícil não pensar em Último Ancestral Comum como uma extensão do existencialismo cósmico que embala as canções de Sem Propósito (2021). São criações que ganham forma e crescem em uma medida própria de tempo, destacando a inusitada relação de Lemos com a produção eletrônica, porém, incorporando a explosão das batidas, guitarras e vozes guturais que a todo momento possibilitam uma interpretação nada ortodoxa do black metal e diferentes estilos adjacentes.

Com pouco menos de treze minutos de duração, a introdutória Viajante Universal sintetiza de forma bastante eficiente tudo aquilo que Lemos busca desenvolver ao longo da obra. Enquanto os momentos iniciais da canção parecem pensados para ambientar o ouvinte, a brusca inserção das guitarras e vozes berradas rompe de maneia efetiva com qualquer traço de conforto. A diferença em relação aos últimos trabalhos do artista, principalmente o material entregue em Sem Propósito, está no uso de captações sonoras de baixíssima qualidade, como se feitas para serem escavadas, interpretadas e desvendadas.

Uma vez ambientado ao registro, o ouvinte é confrontado pela turbulenta Alienígena Interior. Diferente da canção que a antecede, a faixa de mais de dez minutos de duração diz a que veio logo nos segundos iniciais. São guitarras altamente ruidosas, batidas truculentas e vozes inteligíveis, porém, acompanhadas pelo uso contrastante dos sintetizadores e melodias que parecem trabalhadas de forma acolhedora. Um delirante cruzamento de informações que a todo momento acena para o repertório apresentado em Sem Propósito de forma atualizada, rompe com o que há de mais estável e busca por novas direções criativas.

Nada que prepare o ouvinte para o material entregue em Ecos da Imaginação. Diferente de tudo aquilo que Lemos já havia apresentado anteriormente, a faixa abre com um texto contemplativo, passa pela produção eletrônica que faz lembrar as criações de Juan Atkins e outros pioneiros do techno até desembocar em uma solução de vozes desesperadas e guitarras sempre invasivas. São diferentes atos ordenados de maneira fragmentada, como se fosse impossível prever cada novo movimento do artista, estrutura que busca tensionar os limites da obra e ainda abre passagem para a derradeira Cada Canto do Universo.

Tão inusitada quanto a faixa que a antecede, a composição de encerramento mais uma vez evidencia o esforço de Lemos em brincar com as possibilidades. Pouco mais de nove minutos em que o artista parte de uma abordagem típica do lo-fi house, passa pelas batidas do funk carioca e, pouco a pouco, conduz o ouvinte em direção a um território ritualístico que rompe com habitual black metal dos antigos trabalhos para estreitar relações com as pistas. Uma verdadeira confusão sonora que talvez se perdesse nas mãos de um músico iniciante, mas que parece cuidadosamente orquestrada pelo multi-instrumentista brasiliense.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.