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Crítica

Rasha

: "Delírio Altar"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Synthpop, Dark Wave

Para quem gosta de: Bríi e Adriano Cintra

Ouça: Máquinas e Monorritmia

7.7
7.7

Rasha: “Del​í​rio Altar”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Synthpop, Dark Wave

Para quem gosta de: Bríi e Adriano Cintra

Ouça: Máquinas e Monorritmia

/ Por: Cleber Facchi 02/12/2022

Por mais que a base instrumental e característico senso estético incorporado em Delírio Altar (2022, independente) pareça conduzir o ouvinte em direção ao passado, os temas abordados dentro de cada canção apontam para o presente. Produto da parceria entre a cantora e compositora Raíssa Geovanna Matos e o cantor, compositor, produtor e multi-instrumentistaCaio Lemos, o registro de oito faixas não apenas apresenta o som produzido pela dupla brasiliense Rasha, como se aprofunda em temáticas existenciais, medos e a constante sensação de deslocamento vivida por grande parte dos indivíduos.

Somos um coletivo de espelhos ambulantes / Em uma sala de espelhos bem iluminada / E estamos todos nus nesta sala“, reflete Matos na introdutória Boa Sorte, música que detalha parte das angústias e evidente fragilidade emocional que orienta o desenvolvimento do registro. São composições que transitam por entre paisagens urbanas, passeiam pelas mentes dos próprios realizadores e lentamente estreitam relações com o ouvinte. É como um incessante fluxo de pensamentos e pequenas inquietações acumuladas, estrutura que acaba se refletindo no próprio direcionamento rítmico e sonoridade incorporada ao repertório.

Conhecido pelo trabalho em projetos como Kaatayra e Vauruvã, Lemos segue uma trilha parcialmente distinta em Delírio Altar. Da construção das batidas, sempre marcadas pela aceleração, passando pelo maior destaque dado aos sintetizadores e ambientações eletrônicas, tudo parece apontar para os temas soturnos da década de 1980. Canções que fazem lembrar das criações de veteranos como Dead Can Dance e Orchestral Manoeuvres in the Dark, porém, dotadas de uma urgência punk e potência que soa como uma extensão natural de outras obras assinadas pelo brasiliense, vide Corpos Transparentes (2022), do Bríi.

Entretanto, enquanto boa parte dos trabalhos desenvolvidos por Lemos utilizam de uma abordagem essencialmente contemplativa, exigindo a completa imersão do ouvinte, Delírio Altar se projeta de forma bastante direta. São composições que se resolvem em um curto intervalo de tempo, porém, preservando o refinamento dado aos versos e tormentos incorporados dentro de cada canção. “Devaneios inconscientes / Somados pelo ar pesado … Somos máquinas que dançam / Máquinas com máscaras“, cresce a letra de Máquinas, música que concentra o que há de mais característico no som incorporado pelos dois artistas.

Dos poucos momentos em que desacelera, Delírio Altar mantém firme a consistência dos elementos e capacidade da dupla em dialogar com o ouvinte sem grandes dificuldades. Exemplo disso fica bastante evidente em Monorritmia. Inaugurada em meio a sintetizadores que apontam para as ambientações testadas por Aphex Twin, a canção se articula em uma medida própria de tempo, sem pressa. É como um labirinto de sons e sensações, estrutura que ganha ainda mais destaque minutos à frente, na delirante Continuum, faixa que utiliza da sobreposição de vozes e formas instrumentais carregadas de efeitos.

Sequência ao material entregue na dobradinha formada por Sufoco e Sólida, Del​í​rio Altar preserva traços do que parece ser a identidade criativa da dupla brasiliense, porém, deixa o caminho aberto para novas possibilidades. A própria música de encerramento do trabalho, Altar do Delírio, funciona como uma boa representação desse resultado. Livre da aceleração que marca o bloco inicial do disco, Matos e Lemos se aventuram na construção de uma composição essencialmente orgânico. São ideias e atravessamentos pontuais que tornam curioso e imprevisível o processo de apreciação do registro até os momentos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.