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Crítica

Cícero

: "Uma Onda em Pedaços"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Rubel

Ouça: Pássaro Nave, Dia Vai e Uma Onda Em Pedaços

8.2
8.2

Cícero: “Uma Onda em Pedaços”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Rubel

Ouça: Pássaro Nave, Dia Vai e Uma Onda Em Pedaços

/ Por: Cleber Facchi 18/08/2025

A imagem de Cícero, rodeado por escombros, diz muito sobre aquilo que o cantor, compositor e produtor carioca busca desenvolver no sexto e mais recente álbum de estúdio da carreira, Uma Onda em Pedaços (2025, Independente). Nascido de um longo processo de reconstrução pessoal após o período pandêmico, o trabalho é tanto um olhar para o passado recente do artista quanto uma obra que avança criativamente.

O passado segue adiante”, canta Cícero na derradeira canção que concede título ao disco. Partindo dessa abordagem introspectiva, sempre imerso em divagações e pequenos fluxos de pensamento que revelam o que se esconde no interior, o músico carioca garante ao público uma de suas criações mais expositivas e, consequentemente, íntimas do ouvinte, efeito do sempre meticuloso lirismo confessional que move a obra.

Em Pássaro Nave, logo na abertura do disco, são imagens poéticas que tratam da sensação de paz diante da solidão e dos ciclos de cura e transformação. Já em Lucille, com parte dos versos cantados em inglês, uma canção-personagem que materializa diferentes partidas na vida do artista. Na ensolarada Ela Disse, a redescoberta do amor a partir de uma perspectiva sóbria, postura mantida durante a execução do álbum.

Interessante notar que, mesmo intimista, Uma Onda em Pedaços talvez seja o registro mais colaborativo do cantor desde Cícero & Albatroz (2017). Da parceria com Duda Beat, em Sem Dormir, música que destaca o lado enérgico da obra, passando pelo encontro com Vovô Bebê, em Tranquilo, preciosos são os laços que o artista estreita ao longo do trabalho. Nada que prepare o ouvinte para o que se revela na agridoce Dia Vai.

Completa pela presença de Tori, a faixa que trata com delicadeza sobre a força da memória ainda chama a atenção pelos arranjos que evocam o repertório de Canções de Apartamento (2011). Essa mesma riqueza na aplicação dos instrumentos pode ser percebida em Mente Voa, composição que faz lembrar o pós-rock do Sigur Rós, mas se completa de maneira inusitada em um rap. Surgem ainda músicas como Meu Amigo Harvey, com ambientação abstrata, samples de Johannes Brahms e bateria em destaque, quase jazzística.

Não se trata de algo exatamente novo quando pensamos em tudo aquilo que Cícero havia testado em obras como Sábado (2013), A Praia (2015)e Cosmo (2020), mas profundamente maduro e consistente, como se o artista carioca tivesse completo domínio da própria criação. Um misto de passado e presente que, vez ou outra, tende à nostalgia, mas encontra na força de novas temáticas um precioso senso de transformação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.