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Crítica

Destroyer

: "Labyrinthitis"

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Art Pop, Art Rock

Para quem gosta de: Broken Social Scene e Wolf Parade

Ouça: June, It Takes a Thief e It’s in Your Heart Now

8.3
8.3

Destroyer: “Labyrinthitis”

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Art Pop, Art Rock

Para quem gosta de: Broken Social Scene e Wolf Parade

Ouça: June, It Takes a Thief e It’s in Your Heart Now

/ Por: Cleber Facchi 30/03/2022

Sequência ao material entregue pelo Destroyer em Have We Met (2020), de onde vieram preciosidades como Cue Synthesizer e It Just Doesn’t Happen, Labyrinthitis (2022, Merge) funciona como uma criativa combinação de ideias que sintetiza a produção de Dan Bejar ao longo da última década. São canções que preservam o refinamento estético alcançado pelo cantor e compositor canadense em obras como Kaputt (2011) e Poison Season (2015), porém, partindo de uma abordagem essencialmente dinâmica, sempre pontuada pelo uso de referências eletrônicas aprimoradas pelo artista durante o lançamento de Ken (2017).

A principal diferença em relação aos trabalhos que o antecedem, principalmente Have We Met, está na forma como Labyrinthitis encontra nas pistas um importante componente de inspiração. Com referências que vão de New Order à música produzida no final da década de 1970, Bejar convida o ouvinte a dançar. Exemplo disso fica bastante evidente em Eat The Wine, Drink The Bread. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa captura a atenção do ouvinte pela intensa combinação entre batidas rápidas, camadas de sintetizadores e guitarras sempre marcadas pela fluidez dos elementos.

E isso fica ainda mais evidente na canção seguinte, It Takes a Thief, música que soa como um encontro entre Talking Heads e Earth, Wind & Fire, porém, preservando a poesia descritiva, por vezes delirante, dos registros do Destroyer. São incontáveis camadas instrumentais, quebras e sobreposições que tornam tudo ainda mais interessante, conceito reforçado no que talvez seja uma das principais faixas do disco, June. Em um intervalo de seis minutos, Bejar joga com as possibilidades. Do misto de canto e rima que embala os versos, sempre centrados em provocações sobre a alta sociedade, passando pelo tratamento dado às guitarras e sintetizadores, cada elemento parece transportar o ouvinte para um novo território criativo.

Embora marcado pelo uso de referências e temas dançantes, Labyrinthitis está longe de parecer uma obra essencialmente enérgica, ausente de possíveis respiros. Não por acaso, Bejar usa dos momentos de maior calmaria como marcações conceituais, dividindo o trabalho em duas porções bem delimitadas. Logo na abertura do disco, são as ambientações e costuras labirínticas de It’s in Your Heart Now, música que ecoa como um mantra e faz lembrar do repertório apresentado em Kaputt. Minutos à frente, chega a vez da faixa-título do álbum, composição montada a partir de fragmentos de vozes e sintetizadores reducionistas.

Mais uma vez acompanhado pelo produtor e parceiro de longa data John Collins, Bejar aproveita ainda para investir na construção de faixas marcadas pela potência das guitarras e parcial distanciamento do restante da obra. É o caso de Suffer, logo na abertura do disco, e a já conhecida Tintoretto, It’s For You. São canções que partilham da mesma base de sintetizadores e batidas eletrônicas, porém, utilizam de um acabamento essencialmente ruidoso, sujo, proposta que faz lembrar de Streethawk: A Seduction (2001), Destroyer’s Rubies (2006) e demais trabalhos que marcam o início da colaboração com Collins.

Interessante notar que mesmo capaz de transitar por diferentes estilos e propostas criativas, Labyrinthitis se revela como uma obra consistente e equilibrada durante toda sua execução. É como um acumulo natural de tudo aquilo que a banda canadense tem incorporado ao longo da última década, proposta que peca pela ausência de ineditismo, porém, encanta pela costura minuciosa de Bejar e Collins. São canções que atravessam as pistas, utilizam da permanente sobreposição dos elementos e encontram no lirismo misterioso um componente de estímulo que embala a experiência do ouvinte até o último segundo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.