Ano: 2024
Selo: Coala Records
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Ana Frango Elétrico e Céu
Ouça: Venha Comigo, Caco e Nem Te Procurar
Ano: 2024
Selo: Coala Records
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Ana Frango Elétrico e Céu
Ouça: Venha Comigo, Caco e Nem Te Procurar
Elegante, a estreia em carreira solo de Dora Morelenbaum com Pique (2024, Coala Records) é um desses trabalhos que se revelam ao público em pequenas doses. E não poderia ser diferente. Depois de uma série de composições apresentadas no início da presente década e de se aventurar no paralelo Bala Desejo, com quem deu vida ao álbum Sim Sim Sim (2022), a cantora, compositora e produtora carioca avança em uma medida particular de tempo, como se saboreasse os arranjos e versos elaborados dentro de cada canção.
A própria escolha de Não Vou Te Esquecer como composição de abertura do trabalho funciona como uma boa representação desse resultado. São pinceladas instrumentais que tendem ao jazz, revelando o capricho da musicista e da banda de apoio formada por Alberto Continentino (baixo), Luiz Otávio (teclados), Sérgio Machado (bateria) e Guilherme Lirio (guitarras). É como se Morelenbaum fosse ao encontro da produção brasileira dos anos 1970 e 1980, esbanjando refinamento e delicadeza a cada novo movimento em estúdio.
Não por acaso, a musicista contou com a coprodução de Ana Frango Elétrico durante toda a execução do trabalho. O resultado desse processo está na entrega de um repertório que partilha de elementos bastante similares ao material entregue em Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua (2023), mas que segue em um ritmo próprio, preservando a essência da cantora. Mesmo o uso do amor como objeto temático do disco parece contribuir de maneira sutil para a consolidação da identidade criativa de Morelenbaum em carreira solo.
Claro que isso tem lá seus riscos. Salve exceções, como A Melhor Saída, em que se aprofunda na temática dos relacionamentos tóxicos, Pique é um disco livre de grandes surpresas e liricamente repetitivo a partir do momento em que alcançamos a segunda metade do trabalho, quando parte desses conceitos poéticos são revelados ao público. Felizmente, Morelenbaum está bem acompanhada durante toda a execução do material e sabe como criar pequenos respiros, quebras e curvas totalmente imprevisíveis para o ouvinte.
É o caso de Caco, música que não apenas concede ritmo ao disco e leva o trabalho para outras direções, como estabelece na construção dos versos uma contrastante combinação de sentimentos. Surgem ainda preciosidades como Venha Comigo, composição de Sophia Chablau que rompe com o amor romântico do restante do álbum para dialogar com a realidade. A própria Talvez (As Canções), com violões de Josyara e Zé Ibarra, é outra que chama a atenção pelo fino toque de regionalismo que amplia os horizontes da obra.
Independentemente das escolhas e dos caminhos percorridos por Morelenbaum em estúdio, notável é o capricho da musicista durante toda a execução do material. A própria música de encerramento, Nem Te Procurar, composta em parceria com Tom Veloso, com quem assina boa parte das canções, funciona como uma clara representação desse cuidado da artista até os minutos finais do disco. Da escolha do repertório à suave construção dos arranjo, tudo parece cuidadosamente pensado para destacar o trabalho da cantora.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.