Image
Crítica

Father John Misty

: "Chloë and the Next 20th Century"

Ano: 2022

Selo: Bella Union / Sub Pop

Gênero: Pop de Câmara, Rock

Para quem gosta de: Fleet Foxes e Kevin Morby

Ouça: The Next 20th Century e Olvidado (Otro Momento)

8.0
8.0

Father John Misty: “Chloë and the Next 20th Century”

Ano: 2022

Selo: Bella Union / Sub Pop

Gênero: Pop de Câmara, Rock

Para quem gosta de: Fleet Foxes e Kevin Morby

Ouça: The Next 20th Century e Olvidado (Otro Momento)

/ Por: Cleber Facchi 14/04/2022

Quais são as histórias que Josh Tillman tem para me contar? Essa é uma pergunta que sempre faço a cada novo lançamento do cantor e compositor norte-americano como Father John Misty. E em se tratando de Chloë and the Next 20th Century (2022, Bella Union / Sub Pop), mais recente criação do artista, elas são muitas. Do estudo de personagem que embala a empoeirada canção de abertura, passando pela história de um anel de casamento forjado por nazistas, na autointitulada música de encerramento, sobram momentos em que somos cuidadosamente transportados para diferentes cenários e narrativas de forma detalhista.

Entretanto, mais do que um folhear de páginas em um livro de histórias aleatório, a beleza do registro reside na capacidade do artista em trabalhar diferentes personagens, cenas e acontecimentos dentro de um mesmo território criativo. Diferente do material entregue nos dois últimos álbuns de estúdio, Pure Comedy (2017) e God’s Favorite Customer (2018), em que parecia fortemente influenciado pelo cenário político dos Estados Unidos durante no governo de Donald Trump, Tillman deixa de dialogar com o presente para mergulhar na formação uma obra que aponta para o passado durante toda sua execução.

E isso fica bastante evidente logo nos minutos iniciais do registro, quando metais, pianos e a linha de baixo sempre destacada conduzem a experiência do ouvinte. São canções influenciadas pelas grandes bandas de jazz dos anos 1920, arranjos de corda que apontam para o pop de câmara e diálogos com ritmos latinos que ampliam consideravelmente os limites da obra. É como se Tillman trouxesse de volta o mesmo refinamento estético e esmero explícito nas composições de I Love You, Honeybear (2015), porém, partindo de um novo direcionamento criativo, proposta que acaba se refletindo até os minutos finais do trabalho.

Não por acaso, Tillman fez de Funny Girl a primeira música do disco a ser apresentada ao público. Enquanto os versos se aprofundam na história de uma jovem estrela de Hollywood, arranjos sublimes surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa. São inserções minuciosas que ora apontam para os grandes exemplares do jazz standard, ora fazem lembrar das criações de Harry Nilsson no início da década de 1970. Canções sempre trabalhadas em uma medida própria de tempo, tratamento explícito em Q4 e Olvidado (Otro Momento), composição em que passeia pela bossa nova de forma bastante delicada.

Embora essa ausência de pressa contribua para a imersão e natural fortalecimento da obra, Chloë and the Next 20th Century, assim como os registros que o antecedem, ecoa de maneira arrastada e repetitiva em diversos momentos. Passada a surpresa inicial, quando Tillman introduz o ouvinte ao universo do disco, parte expressiva dos elementos são incorporados de forma bastante similar. Mesmo a potência de músicas como Funny Girl, com suas orquestrações e batidas destacadas, parece insuficiente para anular o peso explícito em composições como Only a Fool e We Could Be Strangers, próximas ao encerramento do álbum.

Claro que esse ritmo particular, por vezes arrastado, em nenhum momento diminui a sensação de impacto e evidente esmero do material revelado por Tillman. Em mais de suas décadas de carreira, o artista norte-americano parece ter se especializado na produção de músicas marcadas pelo refinamento estético, minúcia que vai da construção dos versos, sempre descritivos e detalhistas, ao tratamento dado aos arranjos. Talvez você não se identifique com as personagens e narrativas apresentadas pelo cantor, porém, é difícil passar pelas canções de Chloë and the Next 20th Century e não se deixar conduzir pelo material.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.