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Crítica

Holger

: "Más Línguas"

Ano: 2023

Selo: Balaclava Records

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Ombu, Raça e Terno Rei

Ouça: Domingo de Sol, Vida Orgânica e Estilo

7.5
7.5

Holger: “Más Línguas”

Ano: 2023

Selo: Balaclava Records

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Ombu, Raça e Terno Rei

Ouça: Domingo de Sol, Vida Orgânica e Estilo

/ Por: Cleber Facchi 25/07/2023

Se há mais de quinze anos, quando surgiram, os paulistanos da Holger pareciam dialogar com as criações de estrangeiros como Broken Social Scene, marca do introdutório Green Valley EP (2008), ao estrear oficialmente com Sunga (2010), a banda decidiu estreitar laços com os ritmos caribenhos e a música explorada no continente africano. Nada que o posterior Ilhabela (2012) não desse conta de perverter, mergulhando em elementos da produção eletrônica. É como se a cada álbum uma identidade diferente fosse adotada, conceito reforçado no homônimo disco de 2014 e o político Relações Premiadas (2018).

Quinto e mais recente trabalho de estúdio da banda que hoje conta com Marcelo Altenfelder, Bernardo Rolla, Pedro Bruno, Marcelo Vogelaar e Charles Tixier, Más Línguas (2023, Balaclava Records) é para onde todos esses elementos e diferentes propostas criativas parecem convergir. Em lenta construção desde o início do período pandêmico, o material que tem produção assinada em parceria com Gabriel Guerra (Séculos Apaixonados, Dorgas), Tixier e os demais integrantes da Holger, vai de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa, destacando a versatilidade do grupo.

Logo na abertura do trabalho, em Escada, guitarras tropicais que parecem saídas dos primeiros registros da banda se completam pela base sintética e versos que alternam entre relações conflituosas e questões políticas. “Você sujou a mão também / Eu vi / Topou o que convém“, cresce a letra da canção. É partindo justamente dessas inquietações e pensamentos intrusivos gerados durante o período de isolamento social, quando parte expressiva do material foi composto, que o quinteto orienta a primeira metade do disco, vide a ciclicidade sufocante que invade Remota ou mesmo os encontros e desencontros de Domingo De Sol.

Embora parta das experiências vividas durante a pandemia de Covid-19, Más Línguas parece sobreviver para além de um universo temático específico. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do disco, quando o grupo se aprofunda em reflexões sobre o cotidiano e diferentes relações humanas que pouco a pouco ampliam os limites do trabalho. “Cê Tem Estilo / Mas Não Tem Caráter“, afronta a letra de Estilo, reforçando o lirismo áspero que surge e desaparece em momentos específicos. São canções que nascem do acumulo de pequenas angústias e conflitos internalizados, como uma extensão do registro anterior.

Enquanto os versos destacam a sobriedade cada vez mais presente no discurso da banda, sobrevive na segunda metade do trabalho a passagem para algumas das criações mais interessantes e musicalmente diversas do grupo. Em Vida Orgânica, por exemplo, são camadas de sintetizadores e uma linha de baixo sempre destacada que ora aponta para diferentes exemplares do AOR, ora soa como uma faixa perdida do city pop. Essa mesma aproximação com o som produzido entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980 volta a se repetir na já citada Estilo, criação que destaca o papel de Guerra como produtor do disco.

Muito embora parta de uma abordagem transformadora, percorrendo caminhos pouco usuais durante toda sua execução, Más Línguas esbarra em composições que ainda parecem intimamente conectadas ou que pouco evoluem em relação aos antigos trabalhos do grupo. São músicas como Tá Pegando Fogo e Contramão que mais parecem sobras dos primeiros discos da Holger, diminuindo a sensação de impacto evidente em preciosidades como Vida Orgânica. Canções talvez menores e desajustadas quando próximas de outras criações apresentadas pelo quinteto, mas que em nenhum momento ferem o registro que ainda deixa o caminho aberto para o que quer que a banda paulistana venha a produzir em um futuro próximo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.