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Crítica

Jack White

: "Fear of the Dawn"

Ano: 2022

Selo: Third Man Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Raconteurs e The White Stripes

Ouça: Taking Me Back e Fear Of The Dawn

7.5
7.5

Jack White: “Fear of the Dawn”

Ano: 2022

Selo: Third Man Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Raconteurs e The White Stripes

Ouça: Taking Me Back e Fear Of The Dawn

/ Por: Cleber Facchi 19/04/2022

Por mais corajosa que seja a mudança de direção adotada por Jack White em Boarding House Reach (2018), não há como negar que o material entregue ficou aquém do esperado de uma obra do cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista norte-americano. Dividido entre o desejo claro de buscar por novas sonoridades e preservar a própria identidade criativa, o músico revelou ao público um registro totalmente desequilibrado. Canções como Corporation e What’s Done Is Done que arriscam movimentos ousados, porém, parecem sufocadas pelos excessos e demais composições fadadas ao esquecimento.

Não por acaso, ao mergulhar nas canções de Fear of the Dawn (2022, Third Man Records), mais recente criação de White, o músico estadunidense faz o que sabe de melhor. Do momento em que tem início, na turbulenta Taking Me Back, guitarras sempre carregadas de efeitos, ruídos e batidas secas se chocam a todo instante. É como um regresso ao mesmo território criativo explorado pelo artista em mais de uma década como integrante do The White Stripes, porém, preservando tudo aquilo que tem sido testado desde o início dos trabalhos em carreira solo, vide a forte similaridade com o repertório de Blunderbuss (2012).

Observado de maneira atenta, esse talvez seja o registro mais intenso do guitarrista desde o trabalho entregue há dez anos. Sem tempo para descanso, White enfileira uma sequência de músicas que parecem pensadas para capturar a atenção logo nos primeiros minutos da obra. Exemplo disso fica bastante evidente no cruzamento ruidoso entre a faixa-título do disco e The White Raven. Pouco menos de cinco minutos em que o ouvinte é arremessado de um canto a outro de forma deliciosamente instável, como uma combinação natural de tudo aquilo que existe de mais característico e caótico nas criações do artista.

Parte dessa crueza adicional e potência dada ao disco vem do esforço claro de White em trabalhar na produção de um repertório essencialmente homogêneo e marcado pela crueza das guitarras. Diferente do material entregue nos discos anteriores, como Lazaretto (2014), o músico se distancia de possíveis respiros e composições acústicas, excedente reservado ao complementar Entering Heaven Alive (2022), gravado paralelamente e previsto para os próximos meses. O resultado desse processo está na formação de uma obra urgente e direta, como se pensada para ser consumida da primeira à última faixa, sem pausas.

Dos poucos momentos em que rompe com o ritmo acelerado do trabalho, White se permite provar de novas possibilidades e direções criativas que ampliam os limites da obra. Perfeita representação desse resultado acontece em Hi-De-Ho. Completa pela participação do rapper Q-Tip, a faixa parte de uma base ruidosa, lembrando o repertório apresentado em Boarding House Reach, porém, completa pelo uso torto das vozes e rimas assumidas pelo convidado. A mesma combinação de ideias acontece na labiríntica Eosophobia, música que vai do pós-punk ao dub em um abordagem sempre provocativa, por vezes louca.

São justamente esses momentos de maior ruptura que distanciam Fear of the Dawn de um repertório previsível. Embora intenso e capaz de seduzir o ouvinte logo nos minutos iniciais, parte expressiva do material apresentado ao longo do disco busca inspiração em estruturas, temas e conceitos há muito explorados por White. Do reducionismo dos elementos, lembrando a boa fase no The White Stripes, passando pela aceleração impressa nas canções do paralelo The Raconteurs, não há nada aqui que o guitarrista já não tenha testado anteriormente. Composições que invariavelmente tendem ao conforto, porém, estabelecem no domínio técnico e intensa execução um precioso componente de renovação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.