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Crítica

James Blake

: "Playing Robots Into Heaven"

Ano: 2023

Selo: Republic / Polydor

Gênero: R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Jamie XX e Mount Kimbie

Ouça: Loading, Tell Me e Big Hammer

8.0
8.0

James Blake: “Playing Robots Into Heaven”

Ano: 2023

Selo: Republic / Polydor

Gênero: R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Jamie XX e Mount Kimbie

Ouça: Loading, Tell Me e Big Hammer

/ Por: Cleber Facchi 18/09/2023

Muito antes de ser conhecido pelo trabalho como cantor e parceiro criativo de nomes importantes como Beyoncé e Kendrick Lamar, foi como produtor e dono de um som altamente retorcido que James Blake atraiu a atenção da imprensa especializada e conquistou o público. Entre os anos de 2009 e 2010, quando integrava o catálogo do selo belga R&S Records, especializado em música eletrônica, o artista britânico revelou preciosidades como CMYK, Klavierwerke e demais faixas que pareciam conduzir a cena inglesa para um novo território criativo. Nos anos que se seguiram, Blake até ensaiou alguns regressos ao estilo, vide faixas como Digital Lion, porém, foi ao estreitar laços com o pop que o músico conquistou seu espaço.

Mais de uma década depois de ser oficialmente apresentado ao grande público, satisfatório perceber em Playing Robots Into Heaven (2023, Republic / Polydor), sexto e mais recente trabalho de estúdio de britânico, um retorno às raízes eletrônicas que marcam os anos inicias do produtor. Não por acaso, logo no anúncio do material, o público foi surpreendido com Big Hammer. Talvez incompatível para quem foi introduzido ao artista na recente trilha sonora de Metro Boomin para o filme Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (2023), a canção traz o que há de melhor nas antigas criações Blake. São fragmentos de vozes, sintetizadores e batidas tortas que parecem pensados para brincar com a interpretação do ouvinte.

Entretanto, mais do que um aceno ocasional para os anos iniciais de Blake, Playing Robots Into Heaven mostra o esforço do artista em ampliar o próprio campo de atuação e provar de novas possibilidades em estúdio. Exemplo mais representativo disso pode ser percebido em Tell Me. Enquanto os versos mais uma vez destacam o lirismo melancólico do britânico (“Diga-me, vale a pena lutar pelo amor? / Diga-me quando você terminar / Diga-me que você me ama repetidamente“), batidas altamente aceleradas evidenciam uma urgência poucas vezes antes percebida nas composições do produtor que mergulha de cabeça nas pistas.

É como se cada nova composição seguisse uma abordagem totalmente inesperada, rompendo com a regularidade expressa pelo próprio artista no ainda recente Friends That Break Your Heart (2021). Em I Want You to Know, por exemplo, são batidas reducionistas que apontam para a obra de Burial, porém, se complementam pelo uso de trechos de Beautiful, de Snoop Dogg e Pharell Williams. Já em Fall Back, essas mesma abordagem contida ganha um reforço extra nas batidas, lembrando as frequentes colaborações entre Four Tet, Fred Again e Skrillex. Surgem ainda canções como a quebradiça He’s Been Wonderful.

Mesmo movido pelo permanente desejo do produtor em avançar criativamente, Playing Robots Into Heaven a todo momento estabelece pontos de conexão com os registros que fizeram do cantor conhecido. Uma das primeiras canções do trabalho a serem reveladas ao público, Loading funciona como uma delicada representação desse resultado. É como uma extensão do mesmo R&B sintético incorporado pelo artista durante o lançamento de Overgrown (2013). Surgem ainda preciosidades como If You Can Hear Me, balada que reforça a poética contemplativa do britânico, soando como uma composição perdida de Frank Ocean.

Curioso notar que mesmo com todos esses elementos e diferentes propostas criativas, Playing Robots Into Heaven em nenhum momento soa como uma obra confusa. Claro que pequenos excessos podem ser percebidos aqui e ali, como He’s Been Wonderful e Night Sky, músicas que soam muito mais como interlúdios do que parte substancial do trabalho. Ainda assim, notório é o esforço de Blake em transitar por entre estilos, porém, preservando uma série de componente identitários que vão do uso das vozes aos timbres que orbitam um universo tão particular, que há tempos parecia esquecido pelo próprio artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.