Image
Crítica

Jennifer Souza

: "Pacífica Pedra Branca"

Ano: 2021

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie, Jazz, MPB

Para quem gosta de: Milton Nascimento e Moons

Ouça: Ultraleve, Serena e Oração ao Sol

9.0
9.0

Jennifer Souza: “Pacífica Pedra Branca”

Ano: 2021

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie, Jazz, MPB

Para quem gosta de: Milton Nascimento e Moons

Ouça: Ultraleve, Serena e Oração ao Sol

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2021

Ouvir as canções de Pacífica Pedra Branca (2021, Balaclava Records), segundo álbum de Jennifer Souza em carreira solo, é como chegar em casa depois de uma longa viagem. A reconfortante sensação de acolhimento é quase imediata, quente, mesmo que tudo pareça modificado. E não poderia ser diferente. Oito anos se passaram desde que a cantora e compositora mineira deu vida ao último registro de inéditas, Impossível Breve (2013). Nesse intervalo, Souza, que sempre sustentou na leveza da própria voz um importante componente de diálogo com o ouvinte, aproveitou para colaborar com a antiga banda, Transmissor, com quem trabalhou na produção do delicado De Lá Não Ando Só (2014), além de uma variedade de obras com os parceiros da Moons, vide o ainda recente Dreaming Fully Awake (2019).

Vem justamente dessas andanças e colaborações com diferentes artistas o estímulo para a introdutória Ultraleve. De essência cigana, a faixa passeia por entre melodias enevoadas, memórias e arranjos essencialmente dinâmicos, como uma combinação natural das experiências vividas pela artista. “Hoje sou a soma dos caminhos / Já perdi de vista onde começou / Me tornei tão só“, detalha com melancolia, apontando a direção seguida em parte expressiva do trabalho, como na composição seguinte, a agridoce Birds. São flutuações sentimentais, medos e indagações que parecem sutilmente sopradas pela cantora.

Entretanto, assim como em Impossível Breve, a real beleza de Pacífica Pedra Branca sobrevive na capacidade de Souza em transitar por entre momentos de maior angústia e faixas marcadas pelo doce romantismo. É o caso de Amanhecer. Nascida dos sentimentos mais genuínos da cantora, a faixa de essência atmosférica parece pensada para confortar o ouvinte, mesmo que pontuada por momentos de maior sobriedade. “Sorte eu te encontrar aqui / O céu aberto / Como a primeira vez / Vi no seu sorriso o despertar do sim / Amanhecendo“, detalha. O mesmo direcionamento sublime, porém, partindo de outra abordagem, acaba se refletindo na canção seguinte, Serena, bem-sucedido encontro com os parceiros da Moons. “Aqui o céu abriu depois de ver o seu olhar / As fotos que guardei nos meus segredos“, canta.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como tudo se revela ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. São canções marcadas pelo evidente refinamento estético e produção sempre minuciosa de Leonardo Marques (Teago Oliveira, Isabel Lenza) parceiro de longa data da artista, mas que, acima de tudo, valorizam o uso do silêncio. E isso fica bastante evidente na montagem de Crescente. Faixa mais extensa do disco, a composição ganha forma em meio a respiros ocasionais que potencializam os sentimentos expressos por Souza. Um lento, porém, permanente desvendar de ideias, formas e sensações.

Exemplo disso acontece na própria faixa-título do disco. São pouco mais de quatro minutos em que incontáveis camadas de guitarras, batidas, pianos e vozes se entrelaçam em meio a captações labirínticas que ora apontam para a obra de veteranos da cena mineira, como Beto Guedes e Milton Nascimento, ora potencializam tudo aquilo que Souza tem produzido desde a estreia com Impossível Breve. Frações poéticas e instrumentais que ganham ainda mais destaque nas músicas seguintes, Ser no Espaço a Minha Luz, parceria com Fábio Góes em que resgata a essência do também atmosférico Sol no Escuro (2007), e Na Ponta dos Pés, colaboração com Rafa Castro que discute de forma sensível vida, morte e renascimento.

Com Oração ao Sol como composição de encerramento do trabalho, Souza não apenas preserva parte do refinamento estético, leveza e experiências incorporadas ao longo da obra, como sustenta na construção dos versos um precioso exercício de recomeço. “Sol me ensina a morrer / Sol me ensina a surgir do outro lado“, detalha a letra cíclica da canção, como um mantra que se completa pela pelos arranjos de cordas orquestrados por Rafael Martini e vozes reconfortante do músico baiano Tiganá Santana. É como se passada a jornada iniciada em Ultraleve, fossemos mais uma vez convidados a provar dos sentimentos, inquietações e momentos de maior vulnerabilidade sutilmente detalhados pela compositora mineira.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.