Ano: 2025
Selo: 4AD
Gênero: Art Pop
Para quem gosta de: Julia Holter e Cate Le Bon
Ouça: To Be a Rose e I Don't Know What Free Is
Ano: 2025
Selo: 4AD
Gênero: Art Pop
Para quem gosta de: Julia Holter e Cate Le Bon
Ouça: To Be a Rose e I Don't Know What Free Is
Durante a pandemia de Covid-19, enquanto máscaras cobriam os rostos e o mundo vivia em um estado de assepsia, Jenny Hval desenvolveu um estranho fascínio por aromas. A artista, que passou a se dedicar ao estudo das fragrâncias, ainda não havia se dado conta, mas era a forma como Hval, então impossibilitada de excursionar, abraçar ou manter qualquer conexão com as pessoas, buscava por algum tipo de contato.
Vem justamente dessa vontade de sentir e de se entregar aos aromas que o mundo da música proporciona, como o cheiro de suor, cigarro, álcool e multidão, que Hval deu vida a uma de suas obras mais fascinantes, Iris Silver Mist (2025, 4AD). Com título extraído de uma fragrância criada pelo perfumista Maurice Roucel para a marca francesa Serge Lutens, o trabalho de doce acabamento atmosférico ganha forma aos poucos.
Como o borrifar de um perfume, o registro produzido pela própria artista em parceria com Håvard Volden, com quem divide as funções no paralelo Lost Girl, é um trabalho marcado em essência pelas nuances. São inserções sempre calculadas, texturas, fragmentos de vozes e ambientações enevoadas que evidenciam o meticuloso processo de criação de Hval, como uma extensão natural do antecessor Classic Objects (2022).
A diferença em relação ao registro anterior está na forma como a artista avança em uma medida particular de tempo. A própria escolha de Lay Down como composição de abertura e o uso de músicas com durações totalmente irregulares tornam isso ainda mais evidente. É como um exercício de reconexão de Hval com o fazer artístico. Instantes em que a cantora, antes isolada, vai ao encontro do que sempre lhe foi tão precioso.
Embora utilize de uma abordagem atmosférica e profundamente contemplativa, o que vez ou outra tende a pequenos exageros, Iris Silver Mist não exclui a inserção de faixas mais imediatas. Exemplo disso fica mais do que evidente na sequência formada por The Artist Is Absent e I Don’t Know What Free Is, com batidas e vozes em destaque. O mesmo também pode ser percebido na segunda metade da crescente To Be a Rose.
São desvios momentâneos que trazem de volta a mesma fluidez explícita em obras como Blood Bitch (2016) e The Practice Of Love (2019), porém, preservando a atmosfera de Iris Silver Mist. É justamente nesse sutil equilíbrio entre o devaneio etéreo e a pulsação tangível de canções mais acessíveis que o disco encontra sua identidade. Um trabalho que, embora nascido do silêncio e da distância, se converte em um convite ao toque, ao cheiro e à intimidade, como se cada faixa borrifasse uma nova maneira de perceber a realidade.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.