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Crítica

Kaina

: "It Was a Home"

Ano: 2022

Selo: City Slang

Gênero: Neo-Soul, R&B, Art Pop

Para quem gosta de: Helado Negro e Lido Pimienta

Ouça: Casita e Good Feeling

7.3
7.3

Kaina: “It Was a Home”

Ano: 2022

Selo: City Slang

Gênero: Neo-Soul, R&B, Art Pop

Para quem gosta de: Helado Negro e Lido Pimienta

Ouça: Casita e Good Feeling

/ Por: Cleber Facchi 18/03/2022

Há três anos, quando deu vida ao introdutório Next To The Sun (2019), Kaina parecia interessada em testar os próprios limites dentro de estúdio. Acompanhada pelo amigo e parceiro de produção Sen Morimoto, a cantora e compositora original de Chicago confessou referências, expressou sentimentos e fez de músicas como Could Be a Curse e Ghost um precioso exercício de apresentação. Satisfatório perceber em It Was a Home (2022, City Slang), segundo registro de inéditas, uma obra que consolida a identidade criativa da musicista, mas que se permite provar de novos ritmos, encontros com diferentes artistas e possibilidades.

Marcado pelo forte caráter atmosférico, o registro inaugurado por Anybody Can Be In Love funciona como a passagem para um ambiente particular, próprio de Kaina. Embora se relacione com o período de isolamento social, o sucessor de Next To The Sun encontra em memórias da infância e nas vivências da artista dentro da comunidade latina o estímulo para parte expressiva das canções. A própria Casita, com versos em espanhol e vozes de apoio da mãe e avó da cantora, sintetiza de forma bastante sensível o som acolhedor que orienta a experiência do ouvinte até a música de encerramento do disco, Golden Hour.

São canções sobre acolhimento, afeto, saudade e amor, direcionamento que parte das experiências vividas pela própria artista ao longo dos anos, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com o ouvinte. Exemplo disso fica bastante evidente em Good Feelings. Enquanto os arranjos parecem pensados para envolver o ouvinte, versos marcados pela força dos sentimentos garantem maior profundidade à composição. “Se for sorte, deixe pra lá / Há algo em que acredito, é você / Às vezes, eu tenho um bom pressentimento“, confessa Kaina em meio a versos que se completam pela participação de Morimoto.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem contemplativa, por vezes melancólica, evidente é o esforço de Kaina em preservar a atmosfera reconfortante que serve de sustento ao disco. Perfeita representação desse resultado acontece em Come Back as a Flower. Releitura da canção homônima de Stevie Wonder, a faixa encanta pelo minucioso encaixe dos elementos que vai do uso dos vocais ao discreto ronronar de um gato. E isso fico ainda mais explícito na canção seguinte, Blue, composição de essência agridoce que ganha ainda mais destaque por conta da fina tapeçaria instrumental e vozes compartilhadas com Helado Negro.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, Kaina não apenas garante maior peso ao registro, como amplia consideravelmente os limites da própria obra. É o caso de Ultraviolet. Bem-sucedido encontro com Carrie Brownstein e Corin Tucker, do Sleater-Kinney, a canção transporta o som produzido pela artista para um território completamente distinto daquele apresentado em Next To The Sun. O mesmo acontece em Apple, faixa que preserva uma série de elementos incorporados ao longo do álbum, porém, partindo de um acabamento cada vez mais acessível, como uma tentativa da cantora em dialogar com a música pop.

O problema é que todas essas transformações parecem insuficientes quando observamos It Was a Home em comparação a outros registros recentes dotados de uma identidade similar. São nomes como Xenia Rubinos e L’Rain que parecem ter alcançado um resultado ainda mais impactante, forte. O próprio Helado Negro, em Far In (2021), garante à música latina um resultado transformador, colidindo formas pouco usuais e momentos de maior experimentação sem necessariamente perder o caráter acessível. É como se Kaina utilizasse de uma abordagem que convence, mas que invariavelmente tende ao apagamento.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.